quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Pablo Neruda

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos nos iis a um redemoinho de emoções, exactamente o que resgata o brilho nos olhos, o sorriso nos lábios e o coração aos tropeços.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho.
Morre lentamente quem não viaja, não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, ouvir conselhos sensatos, quem passa os dias queixando-se da má sorte, ou da chuva incessante. Quem destroi o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem abandona um projecto antes de o começar, nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando lhe perguntam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples ar que respiramos.
Somente com infinita paciência conseguiremos a verdadeira felicidade.

2 comentários:

Miguel disse...

É impressionante como por vezes um estranho define tão bem aquilo que sentimos e não somos capazes de dizer. Obrigado Ana.

Ana C. disse...

McSleepy estou sempre a repetir esta frase, mas aqui encaixa lindamente: Nós lemos para sentirmos que não estamos sós.