domingo, 28 de fevereiro de 2010

Reflexão sobre este Amor

Apercebi-me com alguma calma e muita nostalgia que nós mães veremos sempre os nossos filhos da mesma forma. Eles são quem segurámos no colo, quem acalmámos nas noites de choro, a quem demos a mão para transmitir segurança num certo momento, a quem cantámos para que adormecessem, com quem conversámos sobre o que os apoquentava, quem beijámos durante o sono noites e noites sem fim. Os nossos filhos serão sempre bebés, crianças, jovens, adultos condensados numa única pessoa. Muitas vezes vamos querer pegar-lhes de novo ao colo e já não poderemos fazê-lo. Outras tantas desejaremos que nos perguntem sobre tudo e sobre nada e eles já não recorrerão a nós para as questões importantes. Mas nós mães permaneceremos aqui de braços prontos para dar colo durante uma vida inteira.
Em oposição a este sentimento imutável, os filhos mudarão sempre os sentimentos em relação a nós. Passaremos de heroínas a chatas. De companheiras que tudo entendem, a adultas que nada percebem. Muitos filhos verão mais tarde os pais como um fardo, pesado demais para carregarem sozinhos, depositando-os numa daquelas antecâmaras da morte mesmo quando teriam condições para não o fazer e nunca lembrarão que aquela pessoa agora tão pesada nas suas vidas, foi quem lhes acalmou as dores nas noites de pranto, quem lhes levou o medo embora com a sua mera presença.
Por tudo isto estou cada vez mais certa que este amor é de facto o mais puro de todos, aquele que nada pede em troca além de um sorriso nos lábios dos filhos e que se conforma mesmo quando é preterido por tantas outras coisas menos importantes.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pôr-me a Mexer

Um dos meus traumas de infância, além de todas as psicoses familiares corriqueiras, foi sem dúvida a Educação Física no colégio de Jesuítas que frequentei.
Nem era tanto pelo professor, conhecido por apalpar o rabo das alunas enquanto as ajudava a fazer cambalhotas e pinos, mas sim pela minha total e absoluta falta de jeito para o exercício. Era ver-me a fugir da bola quando se jogava futebol e eu via o esférico projectar-se na minha direcção, balançar-me no sopé da corda quando era suposto trepar por ela acima como um símio, bater os dois pés antes de executar um aparatoso salto sobre o "cavalo" (acho que era assim que se chamava o aparelho) e ficar-me por aí voltando para trás à socapa.
Quando era salto em comprimento sobre um extenso areal nunca acertava com os passos a dar antes de cair de rabo na areia. Se era preciso correr à volta do colégio lá ficava eu sentada à espera da última volta para me juntar aos otários que corriam os santificados quilómetros. Enfim, um pavor, um pesadelo que me valia sempre uma brutal negativa a ginástica.
Desenganem-se os que pensam que eu pesava 210 quilos aos 10 anos, pois era até bem lingrinhas. Talvez isto tenha uma qualquer explicação genética quem sabe, mas a minha predisposição para mover o lombo sempre foi zero.
Por isso a minha decisão de fazer abdominais até que a voz me doa e uma barra de ferro se parta na minha barriga está a ser tão dura...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Calcante no Acelerador


Tenho séria admiração pelo mulherio que consegue conduzir de saltos altos, pois para mim tamanha proeza enquadra-se na categoria das artes circenses.
Fazer o ponto de embraiagem com o conhecido sapato plataforma é como ter dois muros nas solas dos pés, ou seja, o equivalente e espetar com um calhau no acelerador.
Também não me ajeito no pedal com havaianas. A tropical chanata escorrega-me dos pés como manteiga e entre fazer força com os dedos para que aquilo não se perca entre o travão e o resto dos pedais e concentrar-me em conduzir minimamente bem, perco litros de suor.
Saltos agulha são para mim a suprema agonia pedálica. Como é que alguém no seu perfeito juízo entra num carro, com filharada atrás e se dispõe a chegar vivo a algum lugar com aquilo calçado na pata? Os pés apontam para cima e toda a barriga da perna fica retesada com o esforço centrífugo da coisa.
Credo como admiro a arte de conduzir bem calçada. Devia haver uma alínea na carta de condução que habilitasse as condutoras nessa modalidade, pois estou em crer que são mesmo precisas aulas especiais para aprender a travar suavemente com sapatos destes.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perder-me Um Bocadinho Todos os Dias

A máquina da roupa gira sem parar. Sobre ela acumula-se uma pequena pilha à espera de ser dobrada, enquanto ele se agita nos meus braços.
Consigo fazer coisas que nunca imaginei possíveis com ele ao colo e a arte de me desdobrar em duas, ou três é aperfeiçoada a cada dia que passa.
Sinto-me cada vez mais longe de mim, como se me perdesse entre a música de embalar mal entoada e as fraldas de pano que dobro em quatro como um autómato.
Estou certa que o primeiro mês de vida de um bebé é o mais complicado. Aquele em que sentimos que nunca nada voltará a ser igual, que nós jamais retomaremos hábitos antigos. Vem-nos tudo à cabeça e choramos por nós. Pela Ana solteira antes de tudo, pela Ana que marcava uma viagem em cima da hora por puro impulso, pela Ana antes da mãe, antes da mulher, antes de todas as camadas que se seguiram.
Depois respiro fundo e escuto a respiração dele, frágil, indefeso, dependente do que lhe dou. Limpo as lágrimas com a mão que está livre e vejo a Alice com os seus desenhos coloridos a cantarolar a cada tarefa que se propõe. Fungo e olho as fotografias do nosso casamento.
Sim, tudo vale a pena. Cada camada que me acrescentaram fez de mim mais Ana e sei que tudo voltará um dia mais cheio ainda, cheio de tudo o que realmente importa...

Adenda de extrema importância a propósito da pergunta da Joaníssima: Eu não uso fraldas de pano no rabo do António, mas para milhentos outros fins :)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Envelhecer Bem

Adoro entrar num café, ou num restaurante e ver um grupo de senhoras de idade em amena cavaqueira, produzindo as mais agradáveis gargalhadas.
Percebo que se arranjaram para a ocasião, não esquecendo de pintar os lábios e envergar encharpes coloridas. Percebo que adoram a companhia umas das outras e que aquele momento é genuíno. Sinto a cumplicidade daquelas amizades e sorrio, desejando ser exactamente assim quando for mais velha.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sofrer por Antecipação

Só de pensar que o Hugo vai voltar ao trabalho daqui a duas semanas as palmas das mãos ficam suadas, a boca seca e um calafrio avassalador espalha-se por tudo o que é recanto de mim.
Sempre fui daquelas pessoas que sofrem por antecipação e deixam que aquilo que ainda não chegou estrague o presente. Quando é que vai ser diferente?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Os Opostos Atraem-se (?)

Sim, pode até ser verdade. Uma daquelas verdades que vem escrita nos pacotinhos de açúcar da Nicola. Mas a minha questão é:
Os opostos duram?
É que estou em crer que a erosão das diferenças, juntamente com a erosão dos anos dá uma trabalheira incrível.
Sim já sei que aprenderam muito com os conflitos de opinião, mas caramba, devem andar bastante cansados...
Não gosto de fotocópias, nem de papel químico, mas aprecio um sorriso cúmplice, que surge apenas quando se sente exactamente a mesma coisa. Ou será que sou apenas uma grande preguiçosa emocional?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Diário de uma Noite em Nossa Casa

1 DA MANHÃ QUARTO ANA E HUGO - NOITE
uá uá uá uá ué ué ué
- Hugo faz o biberon, os meus olhos não descolam.
Hugo levanta-se cambaleante e com um olho aberto e outro fechado prepara a dose.
ué uá ué uá
Ana levanta-se aos tropeções e tira o bebé da cama.
Hugo dá-lhe o biberon. Ana fecha os olhos caindo num sono reparador de 10 minutos. Ana levanta-se e tenta que ele arrote sem sucesso. Coloca cuidadosamente o bebé de volta na cama. Deita-se e dá a mão ao marido qual companheiro de infortúnio. Fecham os olhos. Passados dois minutos:
Ué ué uá uá uá uá uááááááááááááááá
Ana pega no bebé.
Uáááááááááá
Hugo pega no bebé
Uééééééééééééééééééééééééé´
- Ele só se cala se andares a passear com ele ao colo.
- E se ele fosse passear macacos?
- Dá cá, deixa-me mudar-lhe a fralda. Olha arrotou, pode ser que melhore.
Uééééé uááááááá icups icups icups icups
- Agora está com soluços.
- O aero Om?
- Não sei.
- Segue o rasto pegajoso.
- Está aqui!
Segue-se a molha da chupeta no dopping dos bebés.
Silêncio.
- Vá, deita-o agora.
Silêncio.
Seguramos na mão um do outro, fechamos os olhos e tentamos dormir nos dois minutos que sabemos separarem aquele momento do próximo choro.
Uééééé uááááááá
- Eu vou.
Ana percorre mais ou menos 1 quilómetro dentro do quarto com o António nos braços até que um suspiro profundo lhe diz que pode deitá-lo.
Sem palavras enrosca-se na cama em posição fetal e espera (a esperança é mesmo a última a morrer) que ele durma cinco horas seguidas, repetindo em voz baixa:
- Isto é só uma fase, isto é só uma fase.
Ana e Hugo caem num sono profundo, lágrimas remelosas escorrem-lhes dos olhos moribundos.
3 DA MANHÃ:
Uá uá uá uá uá uá ué ué ué ué

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Pochete de Ranho

Ontem numa repartição pública observava uma senhora de meia idade que conversava animadamente com uma amiga enquanto esperava a sua vez. Chamou-me a atenção, pois do seu pontiagudo nariz escorria um fio de ranho, daquele ainda transparente, não conspurcado por infecção mais grave.
O que faria ela, para onde verteria o pingo, interromperia a conversa? Tudo era suspense para mim que sucumbia ao tédio de 20 pessoas à minha frente. Aquilo era o êxtase de entertenimento no marasmo total da espera.
Já cabeçeava eu, vergada pelas noites de insónia Antonial, quando a senhora decide sacar, qual espada desembainhada sem pudor, de dentro da manga do casaquinho de malha, do lenço de papel húmido e usado, mole, esburacado, repugnante e como se nada fosse continuou a conversa gesticulando com aquela peça na mão, erguendo-a bem alto, ou baixando-a consoante a entoação que dava à própria voz, espalhando micróbios em seu redor.
Imaginei-lhe o pulso molhado pelo ranho guardado, o casaquinho usado e guardado milhares de vezes já carcomido pelo muco nasal e sustive o vómito.
Assoar-se era mentira, já que preferia continuar a agarrar naquele pedaço de papel, ao invés de tentar limpar-se com ele. E quando finalmente leva aquele trapo ao pingo, tentando encontrar um milímetro de papel ainda seco para o fazer, qual não é o meu assombro, quando o amarfanha arranjando espaço dentro da manga para o guardar de novo.
Chiça que nunca entendi a mania de guardar ranho nas mangas, de reciclar Renova Eucalipto com o zelo de ambientalista ranhoso. Alguém me explica por favor? Nojooooooo!!!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Adoro-Vos (no plural)


Ver-te pela primeira vez nos braços do teu pai, sentir-te junto a mim, cheirar-te num reconhecimento mútuo, apertar-te, sentir a tua pele com a ponta dos dedos, beijar-te, matar cada bocadinho da saudade de não te ver durante nove meses. Tudo isso foi suplantado por esta imagem.
Eu sei que deveria render-me a todas as emoções supostas, mas esta foi a maior de todas, suposta, ou não.
Foi minha também, vivia-a em cada segundo, respirei-a, pesei-a com a medida de amor exacta que se sente por dois filhos que se conhecem pela primeira vez.
O vosso encontro foi um dos momentos mais fortes da minha vida. Adoro-vos filhos (e como ainda é estranho falar no plural).

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ainda Não é o Momento

Ontem alguém trouxe champanhe para comemorar o nascimento do António e eu dei por mim a brindar com o meu filhote ao colo, toda comovida. Enquanto se fazia barulho em excesso e hip-hip-urras, dei por mim a um cantinho, sentada a soprar para o copo de champanhe, como se estivesse a segurar uma caneca de café, ou de chocolate quente. Soprei, soprei, até aquilo ficar menos a escaldar. Quando percebi o que estava a fazer tive a certeza que ainda não estou bem pronta para beber...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Alguém me Indica um Bom Vinho?

Apercebi-me agora que já posso beber um bom vinho tinto (ahaha como se eu percebesse alguma coisa de bons vinhos) e deixar aquela sensação de conforto percorrer-me as veias.
Já não estou grávida!
O único problema é ser vencida na batalha do sono e cair de cara no chão para não mais despertar. Mas que se lixe, vou pedir ao Hugo que durma uma noite com o António para eu poder ceder suavemente aos efeitos calmantes da uva fermentada, que é como quem diz, ficar com uma leve embriaguez...
Aceitam-se sugestões de tintol, se bem que acabei de ver num blogue uma fotografia daquela rara casta de 2010 de seu nome "Sexy" e provavelmente é mesmo esse que vou comprar para me sentir poderosa.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

As Noites em Branco (ou mais precisamente de cal)

Eu disse que o António parecia tranquilo? Hã? A sério que disse?
Não devo ter batido na madeira o suficiente. Já devia saber que os bebés esperam uma semaninha até mostrarem a sua verdadeira potência. Provavelmente para não serem deixados na maternidade.
O meu querido filhote que é a verdadeira doçura durante o dia, à noite transforma-se no Mr. Choro de alta fidelidade. Provavelmente habituado aos ritmos da minha barriga, onde despertava assim que batiam as 9 da noite, não quis ainda abraçar as nuances do mundo exterior, decidindo simplesmente não dormir com a lua e temperando a madrugada com os seus estridentes acordes.
Quando finalmente conseguimos fechar os olhos inchados e pisados pela tortura da privação de sono a Alice entra radiosa juntamente com o sol e diz:
- Mãe estou cheia de fome!
Pronto, estou oficialmente Zombie, nem consigo encontrar o ponto de exclamação no computador. Para onde será que ele foi?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

É Carnaval e Levo Tudo a Mal

Sai uma ex-grávida-anémica ao shopping, fraca e frágil em busca de filmes para ver em família, quando a cada esquina do recinto salta um puto mascarado.
São miúdas já com 14 anos mascaradas de princesas com vestidos feitos de lençóis, chapéu bicudo no cocoruto da tola e véu, varinha mágica na mão. São meninos Zorros de bigode mal desenhado e a desferir golpes de espada na minha direcção, são bebés de berço já prontos para Torres Vedras e os pais orgulhosos, peito cheio a exibir a máscara da cria, ao invés de se esconderem atrás de cada pilar, de se afastarem e fingirem que não conhecem a criança de lado nenhum.
É o horror, o caos, o pesadelo. Ai como odeio o carnaval!
Ainda me lembro quando, ao conduzir plácidamente o meu bólide à noite levei com um saco de água em cima lançado por um grupo de putos reguilas e ia ficando ali mesmo morta de susto. Travei a fundo e persegui a criançada pela noite dentro até me pedirem desculpa de joelhos enquanto gritavam: É carnaval, ninguém leva a mal!
Então não leves a mal este carolo, toma!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Alice e o Mano

Querida Filha
Sabes que bem no meu intímo sempre esperei o pior e desejei o melhor para quando o teu irmão nascesse. Foram 4 anos de muita cumplicidade a duas, de rotinas doces, um bocadinho amargas de vez em quando, almoços com pizza e sumos de laranja, mãos dadas, conversas fantásticas e perguntas exasperantes.
Quatro anos em que nos construimos, em que nos relacionámos e fortalecemos. Daí o meu medo que não reagisses bem à chegada de um novo elemento aqui em casa. Mas vejo agora que tudo o que poderia funcionar contra, funcionou a favor e que quanto mais sentes que te amo, menos medo tens de perder o meu amor.
Ontem quando fui espreitar o teu irmão e vi o teu boneco preferido de guarda, velando o seu sono, bem metido no meio dos lençóis dele, percebi que não tinha que me preocupar mais...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Factos


1 - Quem me disse que mudar fraldas a rapazes é mais fácil que mudá-las a raparigas, mentiu-me com quantos dentes tinha na boca. Os bebés Antónios têm uma bisnaga de longo alcance fora de controlo entre as pernas e não há volta a dar-lhe. Nem dodots em cima, nem truques baratos nenhuns. Ele gosta de usar o seu poder de rega nas superfícies ao seu redor, incluindo os pais e tenho dito.
2 - Os biberons Dr. Brown não fazem bolhinhas de ar.
3 - Custa mais acordar de noite ao segundo filho, muito mais.
4 - Baby Blues é uma realidade incontornável na minha pessoa. Hoje ao ouvir o hino americano num programa qualquer chorei. De cada vez que olho a Alice choro. Vejo uma pedra da calçada mais brilhante e comovo-me.
5 - Quando nos banhos da maternidade o meu marido é o único a dar efectivamente banho ao filho em vez de estar a filmar como os outros pais, sei que o amor que sinto por ele é profundo.
6 - Escolhi a melhor médica de todas para trazer o meu filho ao mundo e ter uma médica assim faz TODA a diferença. Não é qualquer uma que massaja os pés frios a uma grávida enquanto ela leva uma epidural e se abraça a ela na despedida da última consulta.
7 - Nos poucos momentos em que não cedo ao cansaço tenho amado imenso. Já não me lembrava que se podia amar tanto...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Regresso :)

Gostava de vir aqui cheia de inspiração e dizer as coisas mais bonitas do mundo. Pintar de poesia tudo o que reveste o meu coração. Mas vai ficar para mais tarde, pois estou mesmo cansada. Tão cansada como não me lembrava ser possível ficar.
Hoje deixo as coisas mais práticas, só para retribuir a vossa preocupação, interesse e carinho que mais uma vez me encheram de luz.
O António nasceu com 38 semanas e do alto dos seus 3.950 (eu sei que gostam de saber estas coisas) ergueu bem alto o choro para que o pai (que assistiu à cesariana firme, bem disposto e querido) o pudesse ver antes de mim e dar-lhe as boas vindas juntamente comigo.
Parece que não posso ter mais filhos nos próximos séculos, pois a suite presidencial que albergou Mr. António está nas lonas, mas não fiquei nem um bocadinho combalida com a novidade, pois o número 2 sempre foi um dos meus favoritos.
O que me deitou mesmo abaixo fisicamente foi uma grande perda de sangue e consequente anemia que me transformou numa personagem vampírica e me fez desaparecer em cada uma das fotografias idílicas na maternidade.
Daí o cansaço crónico que se abateu sobre o meu corpinho...
Tenho um marido que se revela o melhor do mundo nas adversidades, uma filha que transpira doçura e cuidado com um mano mais novo e um bebé que olha para mim com os olhos trocados de amor e (BATE NA MADEIRA) parece ser muito tranquilo.
Prometo voltar mais inspirada quando o ferro começar a fazer efeito.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um Final que é o Começo de Tudo

Acordámos os três muito cedo. Acordámos os três com um único pensamento:
António.
Expectativas, divagações, imaginar o rosto dele em conjunto, sonhar, temer um pouco, tremer outro tanto. Tudo isso acaba hoje, para dar espaço a mais um grande amor nas nossas vidas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os Lugares da Nossa Infância

Porque é que os lugares mágicos da nossa infância, que habitaram o nosso imaginário durante anos e anos, perdem toda a magia quando revisitados na idade adulta?
Lembro-me de uma casa gigantesca em Moledo do Minho,com o chão em madeira muito velha, uma fonte enorme bem no meio do jardim e um terraço do qual se via o comboio a passar.
Pertencia à minha bisavó Irene e suas irmãs solteironas Gigi e Nhónhó que lá habitavam com a Rosa, uma criada que estava com elas desde pequena.
A casa de Moledo pintou durante muitos anos a minha memória e lá ficou sob a bitola do meu olhar de criança.
Por isso quando lá voltei passados anos o meu coração bateu descompassado à medida que o carro entrava na rua e os meus olhos preparam-se para a emoção de rever aquele palácio que guardara com tanto carinho nos meus sonhos. Mas nada me preparara para o choque que estava prestes a sofrer:
As ervas daninhas no diminuto jardim, uma fonte ridiculamente pequena de um menino a fazer xixi, as portadas de madeira pendentes e chorosas, quebradas por anos de abandono e o tamanho agora vulgar daquela casa, fizeram com que percebesse que aquilo que guardamos com olhos de criança é sempre muito maior do que a realidade.
Os palácios são apenas casas, os jardins labirínticos onde se jogava às escondidas, são na realidade pequenas parcelas de terreno e nós, acho que essa é a parte pior, nós nunca mais faremos do pequeno grande, do banal mágico, do chato aventura.
Nós, bem, nós crescemos irremediavelmente juntamente com o olhar que temos do mundo.