sábado, 27 de novembro de 2010

Pendente

Sem vontade de escrever, de caminhar, de sorrir, de ler, de ir dormir, de acordar.
A minha vida está pendente da coisa mais vil que Deus ao mundo deitou:
A tosse, neste caso, a tosse da Alice.
Ela sempre teve grandes episódios de tosse, mas este está a superar todos os outros. Dura há praticamente um mês e chega sempre na calada da noite, como uma ferroada que nos desperta, um som amargo que faz com que o meu sono fique a aguardar o recomeço a qualquer momento.
Quando pensamos que nessa noite vai ser diferente, não é.
Mudam-se almofadas, lavam-se edredons, desumidifica-se o quarto, humidifca-se o quarto, muda-se de quarto em busca da causa, do agente provocador. Tudo parece que é e nada é.
Hoje fomos a um alergologista e ela tirou sangue, foi radiografada, picada.
Ainda não temos resultados de nada e o meu corpo dói. Consigo ouvir cada batida do meu próprio coração e as vozes ao longe, distorcidas e sem importância, pois nada importa. Estou pendente dela.
Queria poder tossir eu, carregar os seus males na sua vez, mas nada posso, além de dar colo pela noite dentro, esquecendo que tenho sono, que tenho frio, que me tenho a mim, pois sou dela e apenas isso impera.
Que ela fique bem, é a única coisa que importa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Bola

Não há nada mais hilariante do que o futebol. Ele transforma homens cerebrais em loucos emocionais, dá azo a debates intelectualmente profundos e exaltados sobre o rolamento do esférico e tem-me proporcionado horas infindas de gargalhadas de cada vez que apanho vultos da nossa sociedade a divagarem em programas televisivos acerca do relvado e meia dúzia de acéfalos jogadores.
Todo o gajo que é gajo tem uma opinião a dar sobre os frangos, os passes, os dribles, as tácticas, as substituições, a performance dos jogadores e até das suas personalidades em campo. Um é obstinado, o outro é racional, cicrano é apaixonado, beltrano é gelado e por aí afora, até ao infinito. O homem que sabe falar de futebol nunca fica naquele silêncio dos que não têm assunto. Em caso de aperto, fala do último jogo do Ranholas de Cima e tem conversa para a noite toda.
Até ter começado a viver com o Hugo, gostava de ver os jogos da Selecção, mas não sabia o que era um fora de jogo, quando é que o guarda-redes passava a bola com as mãos, ou com o pé. Não imaginava o que motivava um pontapé de canto e a realidade por detrás de um livre era qualquer coisa filosoficamente inatingível para o meu débil cérebro.
Hoje em dia continuo sem saber a maior parte das coisas que referi acima, nunca consigo analisar em segundos que foi fora de jogo e adormeço na maior parte dos jogos, mas não deixo de ficar fascinada com as pessoas que vivem isto apaixonadamente, principalmente com o mulherio assanhado que conhece motivos para cartão amarelo, vermelho e grita: É CANTO, É CANTO!!! Com direito a perdigotos e tudo.
É que nesta merda do futebol sou estupidamente machista. Os gajos a perderem-se com o esférico é uma coisa, as mulheres é outra completamente diferente.

Em Continuação...

O mundo em que vivemos já não é o mundo de há 40 anos atrás, em que os putos ficavam com os avós, ou com as mães em casa, brincavam na rua à vontade, viam pouca televisão, na mão tinham uma bola em vez de um joy stick, comiam esporadicamente um bolycao e faziam a festa, não havia McDonalds, nem enchentes de pedófilos e outros animais selvagens à espreita em cada esquina, havia mais lojas de rua e menos shoppings e, por fim, havia escola a partir da instrução primária.
A emancipação da mulher foi uma das melhores coisas dos últimos anos, mas à falta de acompanhamento do equivalente masculino e de leis que apoiassem a igualdade de deveres e direitos, trouxe consigo uma enchente de aviários dispostos a ajudar nessa tarefa difícil de criar filhos e trabalhar em simultâneo.
Muitos desses aviários chamados creches, têm de facto princípios que vão além do lucro, mas muitos há que não têm.
Tal como nos compete a nós pais, colocar o cinto de segurança aos nossos filhos, alimentá-los com comida saudável, tratar para que estejam quentinhos no Inverno, zelar pela sua saúde, levá-los ao médico, às vacinas, ao parque, à praia, brincar com eles e guardá-los de todos os males. Não vejo porque não nos competirá também, interessarmo-nos pelo meio em que eles crescem fora da nossa casa, ou seja, as creches.
Por isso falei nas visitas surpresa nos infantários, ou nas câmaras. Não para espiarmos cada movimento, mas para dissuadir possíveis animais selvagens que andem à solta nos aviários.
Se eu deixo um bebé de 5 meses ao cuidado de desconhecidos e se na maior parte das vezes pago rios de dinheiro para que zelem por ele, tenho todo o direito do mundo a visitá-lo quando bem entender.
Tanta coisa com os hospitais amigos do Bebé, que promovem o estreitamento de laços entre mãe e filho, nos quais o bebé nunca sai de perto da mãe. Porque raio não se aplica a mesma lógica nos aviários?
Acreditem que se não formos nós a tomar nas nossas mãos a segurança dos nossos filhos, ninguém o faz por nós, ou pelo menos, não tão bem.
E aqui me têm indignada por esta e outras tantas histórias que oiço sobre abuso de crianças e que sinceramente me indignam muito mais do que uma tourada.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Quando só os cifrões importam

Já alguém ouviu falar de escolas privadas que pedem ajuda a voluntárias para darem comida aos miúdos etc.?
Acho isto o cúmulo da política do cifrão.
Ouvi outro dia pela primeira vez e soube também do choque de uma voluntária ao aperceber-se da negligência com que eram tratadas as crianças. Desde despejar de novo para o prato a comida que os miúdos deixavam cair, a não lhes lavarem as mãos antes das refeições (pois dá demasiado trabalho), empurrarem com impaciência crianças.
Só me ocorre dizer foda-se.
Nós não sabemos realmente onde é que deixamos os nossos miúdos e até à idade em que sabem queixar-se, é tremendamente angustiante.
Visitas surpresa à escola é o que está a dar.

Love A.



Sempre que se aproxima a altura do Natal, penso neste filme e de como gostaria de tê-lo escrito.
Vejo esta colagem vezes e vezes sem conta e sonho, porque sonhar ainda é possível.

domingo, 21 de novembro de 2010

Caraças, que Que Balde de Água Fria

Esperava-se o pior para estes dias em que decorreu a cimeira da NATO. Os jornalistas trataram de colocar as nossas mentes em alerta vermelho, falando continuamente em mais que certos desacatos violentos, manifestações assassinas, tipos de máscaras negras a partirem a cidade aos bocados, incendiários, bombistas no oceanário. O McDonalds do Rossio colocou tapumes de madeira sobre o símbolo americano e escavou trincheiras para que os seus bravos soldados de farda castanha e vermelha se agachassem em estado de sítio.
Enfim, eu esperava sinceramente um verdadeiro filme de guerra para o meu entediante fim de semana. Comprei pipocas, óculos 3D, pus o volume no máximo e para quê Anacê, para quê filha?
Para ver dois tipos a fingirem-se de mortos no passeio e mais três a atirarem baldes de tinta vermelha uns aos outros.
E foi este o cenário de guerra. Mais inofensivo do que um jogo de Paintball.
Caramba, somos mesmo patéticos.
Confesso que este não-fenómeno foi apenas superado por um casal de velhotes que dançava o fandango numa manifestação da CGTP.
Se querem acção, não venham procurá-la neste cantinho do planeta. Afinal de contas fomos aquele país que fez uma revolução com flores.

sábado, 20 de novembro de 2010

O Vencedor da Cimeira

Da cimeira da NATO, o que o meu debilmente politizado cérebro reteve de mais interessante foi o marido da Ministra da Defesa norueguesa. No meio de tantas primeiras-damas a pavonearem-se em eventos mais ou menos chatos, ali andava o cantor-actor, entre o mulherio, enquanto a esposa debatia questões internacionais de relevo, ele comprava-lhe uma malinha de cortiça, com um sorriso de orelha a orelha, pleno de simplicidade e normalidade.
É que ser marido de ministra lá no fim do mundo do Norte da Europa, por incrível que pareça, é a coisa mais banal do planeta.
Por isso, que me desculpem os Obama-Veneradores e as suas descidas e subidas de escadaria em modo jogging-descontraído, mas o marido da ministra é o vencedor da cimeira, pelo menos para mim :)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Só para partilhar alguma coisa

Penso tantas vezes em filhos. Como seria ter alguém na minha vida que significasse mais do que tudo ao meu redor. Como seria conhecer um amor tão altruísta como aquele que se tem por um filho.
Um grande Amor, como o entendo, não é a Deus, ou a uma mulher. Um grande amor como o imagino é aquele que não questiona, que não duvida nem por um instante, não analisa, nem traz para cima da mesa os prós e os contras, não lima arestas, não pede em troca, não se coloca diante de um abismo emocional dia sim dia não.
Um grande amor conhecem aqueles que têm ao seu lado um pedacinho de si, mas um pedacinho que não desejam igual nos defeitos, nem nas coisas más e que têm que deixar partir quando chegar o momento certo.
Não conheço de todo o amor e é triste ser assim, muito pior do que nunca ter visto o mar, um céu coberto de estrelas, a luz do sol e da lua, pior do que nunca ter viajado, nem conhecido nada além da nossa aldeia, mil vezes pior é nunca ter conhecido o amor.
Por isso rezo a quem quer que ainda escute este pobre pecador que não me deixe partir sem ter amado.
Nem sei porque te escrevo a esta hora da noite, nem a que propósito me chega esta tristeza por nada saber de como se ama, quando há coisas tão mais nobres pelas quais penar. Mas tinha que falar contigo, porque sei que me entendes por detrás de tudo o que escondo.
Estou cansado de me esconder, tão cansado...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Adeus que já vens tarde

Este post vem ligeiramente desactualizado, mas vem.
Por muito insensível que possa parecer, não me comovi com o Adeus geral que organizaram em homenagem ao Senhor do Adeus. Sinceramente pareceram-me todos ligeiramente tontinhos.
Não teria feito mil vezes mais sentido organizarem-se assim com tanto empenho e lágrima no canto do olho, quando o senhor ainda estava vivo?
Imaginem só a felicidade daquela alma solitária ao ver assim tanta malta reunida a retribuir-lhe os acenos?
Que falta de lembrança caramba.

domingo, 14 de novembro de 2010

Amigas de Uma Vida Inteira pela primeira vez

Conhecia-vos já das letras, dos desabafos, dos telefonemas em horas de aperto e de felicidade. Conhecia-vos por dentro, pelo que pensam, pelo que escrevem, pelo que querem mostrar, pelo que não desejam mostrar.
Conhecia-vos daqui e vocês a mim, mas nunca vos tinha escutado ao vivo, sentido o riso que se propaga no ar, a empatia que se sente só quando se olha.
Vieram de Braga e de Coimbra só para estarem com três patetas que vos queriam ver e foi bom.
Bom é pouco, foi como se nos conhecêssemos de uma vida inteira e como se não houvesse trinta e tal anos de histórias por completar, por saber, por entender.
Mal imaginava eu que aos 35 anos de idade ainda ia a tempo de conhecer pela primeira vez amigas de infância e de voltar a sentir de uma maneira tão pura, a cumplicidade no feminino, a conversa séria seguida de risadas, as histórias do passado que não vivemos juntas, comprimidas para que passássemos a sabê-las.
Porque é que moram tão longe quando vos sinto tão perto meninas?
Obrigada por terem vindo :)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Palavra Mãe

Adoro a forma como a Alice grita assim que me vê espreitar na sala dela: Olha, a minha mãe!!! Como se aqui deste lado, em vez de uma mulher de jeans e ténis com o cabelo um bocadinho desgrenhado, estivesse a gaja mais maravilhosa do mundo e ela me quisesse partilhar com o resto dos coleguinhas. Comove-me a forma como ela me agarra a mão no caminho para o carro e vai dizendo adeus a toda a gente, de peito cheio, como quem diz: Olhem aqui, eu com a minha mãe!
Adoro a forma como ela enrosca os bracinhos no meu pescoço quando a aconchego nos lençóis à noite e me diz: Mãe, sabes que és a melhor mãe do mundo, não sabes? E depois finaliza: E sabes que és a minha salsicha podre, não sabes?
Por enquanto eu ainda sou a pessoa mais importante, mais bonita, mais querida na vida dela e isso é, digo-vos sem exageros, nem floreados a melhor sensação do mundo. Não há rigorosamente nada que nos dê maior alento e sentido do que ouvirmos estas coisas. Principalmente nos dias em que o nosso ego anda num nível um bocadinho rastejante e nos olhamos ao espelho e não reconhecemos aquela tipa cheia de novos cabelos brancos que nos encara do outro lado.
Há dias em que ser mãe é a tarefa mais esgotante, mais sugadora do mundo. Outros há que compensam tudo com uma simples frase.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Coçar-me pela Vida

Quero muito sair daqui, de dentro deste marasmo de vida e já agora de dentro de casa também seria bom. Juro que quero, mas hoje coço-me, não faço mais nada além de me coçar e de andar com o António ao colo, pois a seguir à constipação veio um bocadinho de febre e má disposição.
Este fim de semana, além de ter os dois doentes, fui acometida de uma puta de dor muscular no pescoço e no ombro. Levei uma simpática (sem ironia) injecção e trouxe uma pomadazita para as dores. Ontem passei o dia a coçar o pescoço, hoje ao olhar-me ao espelho pensei que tinha 23 chupões apaixonados no pescocinho, mas não, era mesmo uma alergia ao creme.
Às vezes tenho uma inveja assassina dos animais que hibernam, pois só me imagino numa gruta, dentro de um saco cama, em posição fetal, a dormir um par de meses.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Doçura na Blogosfera


Para a minha querida Alice, para que siga o exemplo da sua mãe.

Se me dissessem há uns anos atrás que ia conhecer as pessoas mais doces, mais inteligentes, mais amigas, mais irmãs num país chamado blogosfera, eu não acreditaria nem por um segundo. Mas hoje posso dizer com conhecimento de causa, que tenho sim a sorte de ter atraído na minha direcção um punhado de gente que vale para uma vida inteira.
Encomendei uns presentes de Natal à Maria Mariquitas e chegou um brinde inesperado para a minha filhota.
É por estas e por outras que tudo aqui valeu já a pena, só para vos conhecer.

domingo, 7 de novembro de 2010

Eles Lambem-se e o Papa Passa

Depois de ter visto os gays em Espanha aos linguados e apalpanços mútuos à passagem do Papa, perguntei-me, do alto desta minha estúpida ignorância e tacanhice de cavalo:
Exactamente o que é que eles desejam com isso?
Querem que a Igreja Católica ache lindinho a união entre duas pessoas do mesmo sexo, lhes lance água benta para os abençoar?
Querem que a Igreja Católica diga sim ao aborto?
Não falo das questões da contracepção, pois aqui é de facto o único ponto onde sinto que a Igreja poderia mudar, nem que fosse por ficarem calados, pois em alguns locais do globo, onde se segue à risca o que diz o Papa, chega a ser criminosa a propaganda contra o preservativo.
E não se lembrariam eles de meios de influência mais inteligentes do que se lamberem à passagem do homem?
O papel da Igreja é dizer que o aborto está errado e que um monte de coisas estão erradas. O papel dos católicos é seguirem o que a sua religião professa. O papel dos livres de pensamento (eu incluída) é acharem tudo uma grande treta, algumas coisas uma grande treta, ou mais ou menos quase tudo uma grande treta.
Ainda por cima em Espanha já não foi legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Para quê aquele show off? Querem casar pela Igreja que tanto abominam? Juro, não consigo entender.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Esta Noite Foi Assim

Choro, muito choro desconsolado. Narinel, mais choro, soro fisiológico, mais choro, água, gritos.
Perto das 4 da manhã adormeces e nós caímos na cama, deixando jorrar a baba que escorre das nossas bocas esgotadas. As lágrimas de exaustão caem sobre a fronha.
4.30 A tua irmã começa a tossir. Codipront. A tua irmã continua a tossir. Mudamo-nos para o quarto dela. A tua irmã continua a tossir, chora porque tem ranho, chora porque tem tosse, chora porque tem sono, chora porque sim. Tu choramingas no nosso quarto.
Revezamo-nos com a tua mana ao colo, porque só assim a tosse acalma. O teu pai fica caído nos pés da cama dela, eu caio na minha cama.
Adormecemos às 6 da manhã.
Às 7.30 começas a acordar e às 7.45 aparece a Alice e eu penso que é, que só pode ser um pesadelo. Ninguém é tão maléfico ao ponto de me obrigar a levantar da cama quando não dormi. Mas ninguém quer saber do meu praguejar, das minhas dores de cabeça, da minha ressaca pura e absoluta de sono. Ninguém quer saber do que sinto eu, por isso levanto-me e retiro ranho dos quatro orifícios nasais, dou chapadas na minha própria cara, ponho a fazer o café para injectar na veia. O teu pai continua adormecido na cama da tua irmã e quando acorda queixa-se de dores de garganta e de podridão geral.
Eu só penso que quero desmaiar e quero que me levem para o hospital preocupados comigo.
Eu só penso que algures nas constipações dos miúdos conheci a loucura e voltei. Será que voltei?
Um miúdo ranhoso é do caraças. Os dois em simultâneo é tortura satânica.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

9 meses


Hoje fazes nove meses. Tantos meses quantos os que estiveste dentro de mim.
Ainda me lembro quando os dois tracinhos apareceram naquele teste de gravidez e como o meu coração bateu descompassado, cheio de nervosismo, de expectactiva, de medo, de insegurança.
Ainda me lembro de quando eras apenas alguma coisa vaga por detectar com a sonda do ecógrafo e a médica te buscava vezes e vezes sem conta sem nunca te encontrar. Cheguei a pensar que afinal não te esperava, mas tu estavas lá, pequenino, escondido, ainda um projecto de tanta coisa importante, mas estavas lá dentro de mim.
E agora és tanto todos os dias. Tanto na minha vida.
És o menino mais doce, mais sorridente, mais plácido, mais suave de todos os meninos do mundo e eu tenho a sorte de ser a tua mãe.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pedido de Esclarecimento aos entendidos

Alguém ajuda esta fashionista frustrada, este camafeu fora de moda e me explica o fascínio pelo botim estilo Mary Poppins?
Já não bastavam os óculos à Top Gun voltarem a atacar sem dó nem piedade, as calças à Samantha Fox encherem as vistas de vítimas inocentes que apenas querem esquecer que os anos 80 existiram, os penteados à Modern Talking regressarem das trevas para me assombrarem?!!! Tinham que ir desenterrar de dentro do baú as botas desta senhora?
Se era para escolherem musicais, escolhiam a Música no Coração, ou My Fair Lady. Agora esta senhora a voar de guarda chuva com o limpa chaminés, nunca fez o meu estilo.
Inovem gentes da moda, inovem.


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Inho

Não gosto que me digam obrigadinho, adeuzinho, abracinho, até loguinho, tchauzinho, beijoquinha.
Não sei se por ser demasiado fofinho, mas sinto-me sempre um bocadinho parvinha de cada vez que me agradecem um grande favor com o diminutivo da palavra a sério.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Distância

Com a distância a nossa cidade fica mais bonita.
Com a distância a nossa memória fica selectiva.
Com a distância do tempo, um amor que ficou a meio, torna-se perfeito, cheio de todas as possibilidades, por corromper, por viver, por estragar.
Com a distância o que era mais ou menos, pode ficar mais do que menos.
Com a distância esbatem-se os defeitos e enaltecem-se as virtudes.
Com a distância as mágoas tendem a relativizar-se, até se transformarem num pequeno lago de dor, onde molhamos os pés muito de vez em quando.
A distância é assim, uma eterna suavizadora de tudo.