sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De 2011 nada sei

Mas em 2010 conheci o António e a nossa família ficou maior.
Por isso vim aqui despedir-me do ano em que nasceu o meu segundo filho.
Não faço balanços nem traço planos inalcançáveis, vou levando a vida à medida do que o meu olhar alcança ;)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Resiliência

Em Engenharia esta palavra é usada para descrever a capacidade de um material sofrer tensão e recuperar o seu estado normal (roubada da Wikypédia claro).
Adaptada à psicologia significa a nossa capacidade de enfrentarmos adversidades sucessivas sem ficarmos disfuncionais. Ou seja, capacidade de adaptação.
Nestes últimos meses cheguei à conclusão que ando a perder a minha resiliência.
Não estou a conseguir voltar à superfície, não tenho oxigénio para permanecer submersa por muito mais tempo.
Bem sei que não são coisas graves e que bem posso levar com a realidade bem mais dura dos outros para me abrir os olhos, mas têm moído, moído, moído até deixarem um buraco bem fundo no meu peito. Daqueles onde a luz parece não chegar.
São noites mal dormidas, conjuntivites de propagação familiar (eu incluída), tosses, ranhos, dentes, viroses, febres, reacções alérgicas. Narinel, Kleenex, soro, aerossol, compressas, gotas nos olhos, no nariz, supositórios, colo, muito colo e eu perdi-me.
Quero ir buscar-me e não consigo.
Hoje estou rouca, dói-me a garganta e custa-me falar, mas não posso estar calada, nunca me escutam à primeira, nem à segunda e sinto-me chata, uma chata rouca.
Hoje sonhei que tinha feito voto de silêncio, como uma Carmelita perdida num convento e gostei da ideia.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Rabicídio do Consumidor (ou como ser enrrabado na garantia)

Não, não estou chocada, nem um bocadinho, isto é apenas mais uma peripécia que em nada me surpreende no nosso país, onde os Direitos do Consumidor são ideias tão abstractas como um quadro em branco e onde as frases:
"Ah, é a primeira vez que temos uma reclamação"
"Tem que vir na embalagem original", mesmo que a embalagem se refira a uma máquina de lavar loiça.
"Oh, lamento muito, mas o seu telemóvel levou com humidade"
"Oh tenho muita pena, mas tem um risco de unha do mindinho na parte lateral esquerda noroeste por debaixo da bateria"
"Lamento, mas o produto não está nas mesmas condições originais, tem uma impressão digital"
"Passaram exactamente 30 segundos do final da garantia"
"Não devolvemos o dinheiro"
São o pão nosso de cada dia e onde é mais fácil accionar uma garantia na loja do chinês, do que numa empresa conhecida.
Querem um conselho?
Tentem sempre comprar em estabelecimentos dos nuestros hermanos (é triste, mas é verdade), como o Corte Inglês, é que eles, regra geral, não escrutinam o aparelho em busca de um risco imaginário, ou de sémen de gaivota no chip, limitam-se a recebê-lo e a aceitar a reclamação sem que tenhamos que perder 10 anos de vida para provar que o produto em questão quinou por conta própria e no final da odisseia levarmos com um processo em cima por termos ousado criticar os deuses do comércio justo.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O Tempo Foge

Às vezes acho que quanto mais tempo se tem, menos se sabe geri-lo, organizá-lo, tirar partido dele. Maiores são as preocupações por coisas que não importam e menor é a capacidade de relativizar.
Se o tempo encurta aprendemos a esticar minutos em horas, fazer de dramas curtas metragens e das tragédias de vida pequenos socalcos no caminho e às vezes escapam-nos detalhes importantes.
O tempo é o que mais nos foge, o que não podemos resgatar lá atrás, o que não conseguimos travar, por isso gostava de um bocadinho mais de qualidade no meu tempo. Ando cheia de tempo nenhum e isso assusta-me à brava.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Queridas Mães

Que vejo amiúde nos shoppings-centrícos e que obrigam as crias em pranto a sentarem-se no colo de um Pai Natal duvidoso, só para tirarem uma fotografia:
Deixem-se disso.
É assim que se traumatizam putos. Eles não querem ir para o colo de um sujeito desconhecido numa superfície comercial. Eles não gostam de tirar fotografias aos gritos e com lágrimas a escorrer. Eles vão deixar de acreditar que o Pai Natal é um gajo porreiro e vão borrar-se sempre que ouvirem um sino.
Vá lá, deixem os vossos miúdos decidirem sozinhos se curtem o Pai Natal, ou se preferem ignorá-lo.
Se querem tanto uma fotografia com um desempregado desesperado que se veste de Pai Natal ao lado da Calzedónia, sentem-se vocês no colinho dele, sim?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Voando Sobre um Ninho de Cucos

A escola da Alice tem sido uma experiência muito interessante. Ela vai lá nos intervalos das viroses, depois volta e partilha com o resto da família, principalmente com o irmão que ela adora, o que lá contraiu.
Eu sabia que ia ser duro o primeiro Inverno escolar, mas nunca por nunca pensei que fosse tão duro tê-la virulenta com mais um bebé em casa.
Mães de 3, de 4, de 10 putos, como fosteis capaz de sobreviver?
Eu acho que só com uma grande dose de espírito "deixa andar, deixa passar, tudo se resolve" é que uma pessoa se mete a ter mais do que dois filhos.
Eu sou daquelas que se afunda em cada virose, tosse e fungadela e que está sempre a ver em cada olho brilhante a febre que espreita à porta. Ou seja, sou daquelas que é bem capaz de enlouquecer em breve.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

E Assim Acontece


Era vizinho do meu avô. Quando saiu um livrinho insignificante chamado A Vontade de Regresso, o meu avô sem nunca ter olhado para uma página do livro, foi com um exemplar ao seu estimado vizinho e passou-lhe para as mãos aquela capa com um quadro do Modigliani. Pediu-lhe apenas que lesse.
Passados uns dias chamavam-me para esse mítico programa Assim Acontece e lá fui eu, completamente idiotizada e sem palavras para uma entrevista sobre coisa nenhuma, porque sou muito mais despachada a escrever do que a falar.
Quando no final daquela conversa tirada a ferros lhe perguntei se me tinha chamado por ser conhecido do meu avô, respondeu-me que nada disso, que me tinha chamado pelo livro. Pousou-me uma mão sobre o ombro, enquanto nos encaminhámos para fora daquele minúsculo estúdio e deu-me os parabéns por ser uma jovem escritora. Eu dei-lhe os parabéns por aquele programa de sempre.
E senti-me grande, demasiado grande para aquilo que na realidade era. Uma jovem frustrada estudante de Direito, tímida e sem tiradas profundas.
Hoje quando soube da morte dele fiquei mais triste do que poderia supor, tal como fiquei estupidamente vazia quando aquele programa que nos acompanhava desde sempre terminou. Não que o visse religiosamente, não porque o achasse um programa acima da média, mas porque me confortava saber que um programa assim acontecia todos os dias.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Fúria do Açúcar

Lá nas plantações de açúcar estão neste momento centenas de exploradores do canavial agarrados à barriga de tanto rirem e agarrados às contas bancárias de tanto as terem enchido em poucos dias.
Basta alguém gritar:
Olha o açúcar vai limitar-se a dois pacotes por cabeça!!! Para milhões de tugas correrem como bois a entrarem na arena, em busca do maior número de pacotes possível desse bem essencial à diabete e à cárie.
Enfim, somos tristes.
Ainda se dissessem leite, agora açúcar senhores? Para que raio querem vocês tanto pacote de sacarose em casa? É a gula, a gula.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Viagem de Regresso

A Paula Moura Pinheiro, jornalista que, sabe-se lá porquê, sempre me fez lembrar a Cleópatra e cujos programas sempre prenderam esta dispersa atenção de cada vez que passava por eles, escreveu um livro intitulado: A Viagem de Regresso.
Sempre que passo pelo livro na Fnac leio: A Vontade de Regresso.
Depois acordo e percebo que não sou parecida com a Cleópatra, nem me chamo Paula Moura Pinheiro. Depois volto a despertar e percebo que gosto à brava daquele título.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Menos Foguetes Por Favor

Não sou de foguetes, de barulheira, de gritos, de brindes, de superstições, de sorrisos amarelos, de euforia fingida.
Não sou de grandes noitadas, nem de espumante, não sou de festas cheias de malta.
Não sou militante de nada e fã de coisa nenhuma.
E há uma altura particular do ano em que tudo isto chega para me assombrar, para me dizer que sou um bicho do mato irascível e sem emenda possível. Essa altura responde pelo nome de passagem de ano.
Não me levem a mal os que gostam de a celebrar com passas, panelas, cadeiras e afins, mas o que eu gostava mesmo era de passar o ano a dormir, de preferência com tampões nos ouvidos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A minha caderneta de cromos

Hoje, enquanto procurava uma música do fundo do baú no Youtube à velocidade de um espirro, lembrei-me de quando ficava horas com o meu pequeno rádio portátil amarelo da Sony, à espera que passasse uma música que queria gravar no rádio. Fazia cassetes inteiras com este esquema e odiava quando os locutores decidiam começar a falar antes do final da música.
Havia umas músicas que eram tramadas de apanhar, mas quando conseguia finalmente esse prodígio, ouvia e ouvia e ouvia até à exaustão aquele som ronfanho, ao mesmo tempo que tentava apanhar as letras com um pequeno pedaço de papel e uma caneta, usando o pause e o Rewind as vezes que fossem necessárias até conseguir tê-la inteirinha ao meu alcance. Depois era só decorar a coisa e fazer grandes figuras em frente dos outros putos que só gemiam pedaços de refrão. Ora tomem lá a letra inteira e embrulhem!
Lembro-me que uma que custou particularmente a conseguir foi o Somebody dos Depeche Mode, que ficou para sempre adulterada pela vozinha que entoava: Cidade By Night, By Night, By Night.
Não trocava as novas tecnologias por nada, mas caraças, como sinto falta das noites passadas com o meu gravador amarelo a fazer cassetes atrás de cassetes.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Esclareçam-me uma mini-dúvida completamente idiota

Qual é a moda de começar os títulos dos posts com as palavras De, Das, Do, Dos?
Vem-me sempre à memória um livro da Isabel Allende intitulado: De Amor e de Sombra.
Agora vou ali sucumbir De sono e já volto.

10 meses


Meu querido bebé, hoje faz 10 meses que te vi pela primeira vez e desde então que te tenho a crescer ainda aqui dentro. Sinto-te mexer, dar pequenos pontapés e evoluir dia após dia, com uma intensidade sempre maior.
O que cresce dentro de mim não é já o teu pequeno corpo dependente do meu. O que cresce no meu peito é o amor que te tenho.
Nada chega de repente e o sentimento por um filho também se constroi e se acumula hora após hora e quando parece impossível gostar ainda mais, no dia seguinte sentimos que sim, que é mesmo possível e que temos uma reserva de espaço infinita apenas para vocês.
Amo-te António e não sei já viver sem o teu sorriso, sem o teu cheiro, sem o teu cabelo claro, os teus olhos de amêndoa, o teu sorriso de dois dentes, a tua doçura que se espalha a todos aqui em casa.
É bom ter-te nas nossas vidas :)

De Volta ao Passado


Frio, demasiado frio. Andámos horas às voltas até encontrarmos lugar para estacionar e muito em cima da hora entrámos na Praça de Touros a tiritar e sem grande capacidade de raciocínio. Olhei à volta e vi pessoas mais ou menos da minha idade. Praticamente não havia putos. Pensei que estava velha e entorpecida.
Depois as luzes do palco acendem-se e aquele frémito que só chega com as grandes emoções começa a tomar conta da ponta dos meus dedos, aquecendo-os. A voz do Tim Booth ecoa o All Sit Down e vemo-lo no palco, sentado, demasiado estático de gorro na cabeça, foram precisos alguns minutos até percebermos que o verdadeiro Tim estava entre as pessoas na bancada e ia descendo, como se fizesse parte do público, até toda a gente descobrir a ilusão e gritar como se costuma gritar nestas emoções que só a música traz.
Regressei ao princípio dos anos 90 e percebi que ainda sabia algumas letras de cor, percebi que queria pular, gritar, fazer figuras de fã e fiz tudo a que tinha direito. Voei até aos meus 17 anos, sonhei que o Tim Booth me via no meio da multidão e fixava o meu olhar (quase posso jurar que sim) e foda-se, fui feliz.
Não há rigorosamente nada que se compare à união que sentem os que partilham a mesma música e ontem não foi diferente.
O concerto terminou com chave de ouro, quando várias pessoas da plateia foram puxadas para o palco e para o lado dele, cantando, dançando, enlouquecendo de alegria ao som de Laid e caraças, fiquei a gostar tudo outra vez e ainda mais de James e do seu vocalista maradamente maravilhoso e acessível.
Tim Booth se me lês, eu sei que ontem olhaste fixamente para mim e não vale a pena negares.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

All Sit Down! Sim, a Anacê senta e se calhar até dorme

Diz que aqui este casalinho vai ver James.
Sairmos os dois sem filhos a reboque não acontece há uns bons 6 meses. Não sei se me enrosque no banquinho da praça de touros do Campo Pequeno e durma ao som do Tim Booth, não sei se cante com os braços em modo limpa-pára-brisas até que a voz me doa.
Vou reflectir. Seja como for sair do carro sem ter que tirar criançada e cadeirinhas e saquinhos será um fenómeno paranormal para a minha pessoa.
Por isso rezem para que nenhum imprevisto aconteça e para que possa re-ouvir um dos grupos mais marcantes da minha rica juventude sem desmaiar em êxtase.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para as Pessoas Corajosas que Conheço

Há decisões que parecem reflexo de alguma fraqueza, mas que na realidade demonstram uma grande força interior.
Há gestos que podem parecer uma fuga, mas que na verdade são um enorme pontapé na inércia.
As pessoas de dentro não entendem assim, julgam-se em demasia, medem-se em excesso e culpam-se quando não há culpas a tirar. Mas as de fora têm o distanciamento necessário para afirmar com todas as letras que vos gabam a coragem.
Não se julguem tanto, não pesem tanto cada pequeno gesto. Deixem-se amparar, encostem-se a quem amam e quando vos disserem que fizeram a coisa certa, acreditem.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

À beira da televisão, sentei, vi e chorei



Caramba, com a idade fico cada vez mais lamechas. Tentei esconder a lágrima no canto do olho, juro que tentei e acho que fui bem sucedida. Nem a Alice, nem o Hugo perceberam que chorei no final.
E aqui me têm, completamente patética e completamente apaixonada pelo Toy Story 3.