sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

American Tune

Sim, eu já estive em Nova Iorque algumas vezes, mas ao contrário de muita gente que se passeou pelas avenidas geometricamente perfeitas e com nome de números, eu não olho para os filmes hoje em dia e revejo a minha humilde pessoa na Times Square, ou na esquina da 5ª avenida com a rua 23 ao quadrado.
Não consigo fazer isso. Simplesmente, porque, mesmo quando andava por lá, me sentia dentro de um filme, ou de uma música de Simon e Garfunkel.
Nunca consegui abstrair-me do cinema, dos táxis amarelos, da banalidade das limusines, ou da certeza de ter visto o Woody Allen em cada tipo baixinho que se cruzava comigo. As pretzels, os cachorros quentes vendidos na rua (e que os protagonistas devoravam, enquanto falavam sobre o sentido da vida) faziam parte de um esquema montado para me levar a crer que eu não estava mesmo ali de verdade.
Chiça, aquilo era eu dentro de um guião escrito por alguém que não eu.
Até hoje, quando me revejo nas fotografias, com o Naked Cowboy a tocar guitarra atrás de mim e uma Pretzel (horrível, por sinal) na mão, acho que foi tudo uma montagem.
Humildemente confesso que nunca nenhuma cidade (ou país, já agora), me levou tão longe na ficção, como os Estates. Era como se conhecesse tudo aquilo desde sempre.
Não fiquei com memórias deste, ou daquele sítio, simplesmente porque as memórias daquela cidade pertencem ao mundo inteiro.
Nesse sentido, é uma cidade um bocadinho prostituta, que abre as pernas ao imaginário de todos, não deixando que ninguém roube um bocadinho do seu coração.
E não é uma prostituta qualquer, é uma prostituta cara como o raio que a parta.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Oprahhhhhhh

Sim, eu sei que ando neurótica por o programa da Oprah ter terminado.
Afinal de contas, a minha guru deixará de me acompanhar ao princípio da noite e eu deixarei de ficar mais sábia e de lacrimejar e de me sentir pequena e grande e boa e má e tudo ao mesmo tempo.
O que é que se há-de fazer, eu adoro a mulher.
Pérolas como (estou a citar de memória):
"Perdoar é abdicar da esperança de que o passado poderia ter sido diferente".
"Escutem sempre os vossos pressentimentos. Primeiro eles chegam sob a forma de sussurros que só nós parecemos escutar. Mais tarde transformam-se em gritos, quase impossíveis de negar".
Reportagens sobre Martin Luther King, genocídios, racismo, xenofobismo, pais de merda, pais corajosos, pessoas doentes, pessoas lutadoras, pessoas vis, viagens, decoração, guerra e uma vida inteira de possibilidades.
Cenas destas. Cenas que nos prendem, que nos colam o rabo ao sofá quando o programa dela começa e que nos fazem suspirar quando termina. Cenas que nos fazem sentir minúsculos, ou grandes. Que nos fazem pensar.
Por tudo isto, sei que vou lacrimejar perdidamente quando a sua ausência se fizer sentir na minha vida televisiva.
Será que o canal dela vai estar disponível nos nossos cabos?
Deprimi.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Conselhos fundamentais da maternidade

Não usar roupa escura quando se tem um bebé constipado. O contraste do ranho no preto, ou no azul escuro, ou no verde escuro é inevitável e dá um aspecto suavemente badalhoco.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Iluminatus est

Eu cá acho uma rebarbada treta, uma poeira para a vista, um exagero para inglês ver (ou não ver, neste caso), um teatro para idiotas, não haver iluminação de Natal em Lisboa.
Uma Câmara criativa certamente arranjaria soluções para iluminar a merda da Avenida da Liberdade sem que a Troika nos enviasse para o quinto dos infernos monetários.
Ai que somos tão poupadinhos, estão a ver? Andamos a cortar na luz. Estão a ver como somos bons e poupamos no mês de Dezembro? Olhem só!
Temos funcionários camarários que são absolutas pedras na engrenagem, não funcionamos, chateamos com requerimentos, estupidimentos, entupimentos, adoramos a burocracia, daquela que não deixa ninguém fazer nada, mesmo que esse alguém queira investir na cidade, mas poupámos bué neste mês de Natal.
Ir a Lisboa mostrar as iluminações à criançada sempre fez parte dos nossos percursos de Natal e ajudaria a tornar este Natal, impregnado de crise e vestido de negro, um bocadinho mais luminoso. Agradeço à CML a poupança de dona de casa, mas dispenso. Acendam mas é a bosta das luzinhas, sim?

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Todas as nenhumas certezas do mundo

Fico sempre fascinada quando leio pessoas transbordantes de certezas, seguras de si e do seu futuro. Pessoas que sabem exactamente o que desejam para si e para os seus e que não se desviam um milímetro. Pessoas plenas de maternidade, de conjugalidade, de genialidade e outras tantas palavras que poderia inventar, terminadas em "ade".
Mulheres bem resolvidas (o que é que elas resolveram?), com maridos saídos de um filme da Disney, putos que não dão um pum, nem produzem ramelas e vidas com drama estrategicamente colocado nas entrelinhas, só para parecer real e suscitar algum compadecimento geral.
Eu também já fui assim, tinha resmas de leis e certezas não sujeitas a excepção. Sabia o que queria e o que não queria, até começar a viver fora do guião que tinha escrito para mim.
Quanto menos se vive (em todos os sentidos), mais leis não sujeitas a revisão se constroi.
Eu lá aprendi que o melhor é ir metendo plasticina nos meus planos e ir fazendo ginástica para aprumar os músculos que sobem e descem, ao sabor da vida.
Porque a própria vida, meninas e meninos, é a primeira a tramar-nos o esquema.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Acabou o drama

Acabei de ouvir no telejornal que os especialistas defendem a fantasia do Pai Natal. Os pais devem alimentá-la aos filhos.
E pronto, acabou-se o meu drama. Continuarei a alimentar, até eles, no seu devido timing, perceberem que é rebarbada tanga.
No entanto, faço questão de salvaguardar os Pais Natal dos Shoppings. Tipos suspeitos que recebem criancinhas aterrorizadas no colo. Esses, eles já sabem que são a fingir.
O verdadeiro, aquele que chega de trenó puxado por renas e, de vez em quando aparece aqui em casa com um sino, não anda pelas superfícies comerciais. Tem mais do que fazer.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não, eu não estou com uma mantinha

sobre o corpo, a olhar a lareira crepitante e a sorrir com o momento idílico, como aparentemente, toda a gente tem feito ultimamente (a inveja é nojenta, sim). A minha lareira fuma mal e a última vez que a crepitámos ficamos com sequelas pulmonares permanentes e com a casa a cheirar a churrasqueira de Alvalade.
Também não estou com uma chávena de cacau quente a acariciar o pêlo do gato que não tenho e a suspirar, enquanto leio as páginas de um bom livro de vampiros, ou de assassinos em série.
Também não estou a ver uma comédia romântica, enquanto beberico um copo de tinto e passo o dedo sobre o rebordo do copo de cristal que não tenho.
Estou a fazer algo bem mais superior, bem mais erudito e repleto de sensibilidade humana:
Estou a chorar a morte do querido líder.

domingo, 18 de dezembro de 2011

www.solidão.com

Naquela pequena sala de si própria, ela escreve a alguém que não conhece sobre coisas suas.
Naquele pequeno sofá usado só de um lado, de pernas cruzadas e corpo frio pelo espaço que sobra, ela pede conselho a alguém que julga perfeito. Perfeito pela vida que (d)escreve naquele blogue, naquela página de facebook, naquele espaço virtual em que se pode ser tudo, desde que se seja capaz de agilmente o descrever em letras.
Naquela vida sonhadora, ela sonha poder ser dele, como a outra é dele. A outra linda, perfeita, de armário cheio de encanto e cabeça arrumada.
Naquela noite cheia de horas por passar, ela risca-as, às horas, uma a uma, como rasgões na pele e desabafa com ele, pede-lhe conselho, guarida, protecção. No fundo, pede-lhe atenção. Um minuto que seja. Ela imagina-o retirando tempo ao seu tempo ocupado para se dedicar a ela e às suas perguntas e anseios.
Ele responde-lhe. Ela sente-se importante na vida desse alguém tão importante que não conhece, mas que jura conhecer do avesso.
Tirando os 1345 amigos que tem no facebook, não tem ninguém. Por isso precisa de ouvir das letras de alguém o que poderia reter escutando uma voz do outro lado do telefone. Os conselhos que julga supremos, são apenas uma opinião, mas ela diviniza-os, engrandece-os, ao ponto de não achar possível que ele erre.
Ele sente-se Deus. Ele faz a diferença na vida dessa pessoa. É bom sentirmos que somos importantes para alguém. É inebriante sentirmos que temos poder sobre outra pessoa qualquer. Então, ele escreve sobre isso e sente-se ainda mais importante quando lhe chovem elogios de bondade sobre os ombros erguidos de vaidade.
Gasta horas e horas dos seus dias em frente a um monitor feito de maçãs Macintosh e sente-se grande. Grande como Deus. O Deus das pessoas sós.
Ela olha as horas e fecha o seu computador, abraçando-o como um tesouro único que não quer perder.
O telefone não tocou, a campainha não tocou, a sua vida não saiu dali.
Puxa o cobertor sobre o corpo frio. Levanta-se num ápice e verifica de novo o seu mail. Inbox vazia.
Volta a ler os mails trocados. Fecha de novo o portátil.
Deita-se. Os seus pés frios buscam em vão um lugar quente nos lençóis de Inverno. Apaga a luz e chora.
Ele sorri. Sabe exactamente sobre o que escreverá no dia seguinte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Tic-Tac-Ti-Ta-T-T.............

Cada vez me convenço mais que a vontade de ter mais filhos é directamente proporcional às ajudas que se tem.
O meu relógio biológico eclipsou por completo. Não dá horas, minutos, segundos, dias, nem semanas.
Depois de estar há mais de um mês a ouvir tossir de noite, o meu organismo entrou em modo de auto-defesa e estou desconfiada que engoli os meus próprios ovários.
Quando vejo um bebé fofinho e pequenino sorrio e penso: Chiça, que fofura, cutchi cutchi, ainda bem que não é meu.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ansiolíticos e negócios florescentes

Depois de uma ida à farmácia e de lá ter deixado uma pequena fortuna, o meu cérebro deprimido conseguiu carburar uma brilhante ideia:
Um projecto de lei que obrigasse este governo à comparticipação a 100% dos ansiolíticos, ou da erva (ainda não decidi o que compensa mais). Não basta a voz do nosso Ministro das Finanças, que nos embala na sua cadência dormente. É preciso de facto entorpecer os sentidos a outro nível, para não desatarmos todos aos tiros.
Uma vez que a taxa de suicídio e de mortalidade deve disparar em breve, pensei num bom negócio: Uma funerária que tenha no seu catálogo de possibilidades, caixões de cartão reciclado a preço de saldo.
Só boas ideias de negócio. Como é que eu não tirei Gestão?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Feiras de Natal à Tugalesa

As nossas feiras de Natal têm que meter a Zon, ou a Meo e respectivas mascotes saltitantes a aterrorizar os putos.
As nossas feiras de Natal têm que meter patrocínios ao Pai Natal pela Zon, ou Meo. Duendes com logotipos da Zon, ou da Meo, ou quiçá, dos preservativos Control, ou de uma marca de vodka.
As nossas feiras de Natal têm música tecno e comes, muitos comes, entre os quais salpicão, queijo da serra, chouriços vários, hot dogs, farturas, pães com chouriço.
As nossas Feiras de Natal têm tanto de Natal como o Red Light District (minto, este sempre tem luzes vermelhas).
Estou com uma depressão na catacumba da tola. Fui à Feira de Natal nos jardins do Casino do Estoril e plena do espírito da época. Ou seja, vim com um crepe, um pão com chouriço e uma dúzia de castanhas no bucho. Minto, venho também com três sacos de amostras que a mascote da Nestlé estava a distribuir.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Talento Bruto

Hoje, sem justificação que me justifique, nem que esfarrapadamente me desculpe, parei no programa matinal da tvi e descobri que o tema desse mítico, profundo e abrangente talking showing, era Picha e Coina, essas duas famosas localidades da nossa portugalidade. Famosas, não pela gastronomia, não pela beleza natural, não pelo raio que as parta, mas pelo seu nome.
As lágrimas, as gargalhadas, as chalaças feitas em redor dos dois locais com nome de pilinha e pi-pi, levaram-me a crer que o próximo programa será sobre um local no mapa chamado cocó, esse tema de humor acutilante e profundo, que faz furor na pré-primária e que arranca gargalhadas à criançada toda (eu incluída).
Ahahahahahaha, picha e coina. Ahahahahahah que original, que certeiro. Ó meu Deus, quem se terá lembrado disto? Como é que não vão estes criativos para Holywood, ou para a BBC?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Sério?

Porque é que abro o meu gmail e descubro que uma merda qualquer pornográfica invadiu o meu blog de comentários encriptados (ou lá o que é aquela merdunce aos quadradinhos com a palavra sex no meio).
A sério? Realmente? Aqui? Vão lá para outra esquina, pode ser? Aqui, o mais perto da pornografia que vão encontrar é um post sobre as desvantagens do fio dental.
Tudo o que existe de mais patético parece insistir em acontecer-me.

To Have or Not to Be, ou qualquer coisa assim

Outro dia ouvi um realizador de cinema, americano e milionário, dizer que percebeu que o dinheiro não era importante. Despojou-se assim dos casarões, dos carrões, dos milhões e de tudo o que acabasse em ões na sua vida. Ficou mais feliz.
Isto é espectacular, espiritualmente superior, é todo um outro nível de sabedoria de vida. Mas uma pessoa que faça contas ao dinheiro para comprar comida e peúgas para os filhos, ou que tenha os dentes podres, porque não pode pagar o dentista, jamais atingirá este nível de espiritualidade.
Enfim, o que eu quero realmente dizer é que é preciso ter-se dinheiro para se poder afirmar que não se precisa dele.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Absolutamente fascinada e apaixonada

Pelo raio do tabuleiro que comprei no Ikea.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Reflexão tão vaga e cretina como outra qualquer, mas minha

O nível de exigência que temos para com os nossos amigos, está proporcionalmente ligado à nossa própria auto-estima.
Aceitarmos amizades medíocres, carregadas de pequenas decepções, de pequenos arranhões infectados, é aceitarmos que não merecemos melhor.