terça-feira, 31 de julho de 2012

Desejo Agudo



A vida seria bem mais simples e prolongada se existisse este interruptor.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Comer para matar a fome

Na nossa breve passagem pela zona da Mealhada, parámos num restaurante de beira de estrada, para satisfazer os estômagos roncantes das crianças e deparei-me com dantesco cenário.
As pessoas, no gigantesco complexo de ingestão de leitão, não falavam. Bigodes pingavam, línguas passeavam sobre as beiças, dedos agarravam pedaços suculentos de carne, pratos de batata frita eram passados de uma pessoa para a outra com sofreguidão. Ali parecia ingerir-se a própria vida. Era comer, ou morrer.
Eu sei que vem desde os primórdios dos tempos, esta cena com a comida. Este culto, esta obsessão, esta relação de profundo amor que muitos têm com o seu pedaço de entrecosto, o chouriço, a especiaria, as migas, a doçaria, até a própria salada gourmet.
Sei que eu própria padeço, de quando em quando, geralmente quando estou mais em baixo, desta paixão erótica pelo divino alimento, mas porquê?
Porque é que se perde tempo a fotografar o alimento, a acariciá-lo, a mimá-lo, a mostrá-lo, a falar sobre ele e a exibi-lo a outras gentes?
Há qualquer coisa errada aqui.
A comida deveria servir para matar a fome, ponto. O sexo, o amor e realizações de outros níveis, deveriam servir para matar outras carências.
Isto é a minha teoria.
Agora vou ali pôr a marinar numa cama de alecrim, com limão e azeite, o meu lombo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A Gente Não Quer Só Comida, a gente quer comida, diversão e arte

Pegando no mote da Melissa, com o seu post sobre como é redutor e cansativo à brava vivermos constantemente em função de poupar dinheiro para a comida e esquecermos a vida, decidimos fazer um passeio à medida do bolso emagrecido pelo corte de subsídios.
Acredito que existem passeios sempre possíveis, por mais magro que ande o bolso. E que, se nos decidirmos a pôr algum dinheiro de lado para um passeio, conseguimos amealhar. Podemos não ir a Nova Iorque, mas vamos com toda a certeza conhecer sítios maravilhosos no nosso país.
Os nossos 3 dias em Pedrogão Pequeno foram do melhor que já tivemos. Os miúdos cansaram-se, correram, viram, respiraram ar puro, gritaram, riram, adoraram cada minuto e nós saímos da rotina.
Sentimos a vida de aldeia, as festas de verão com cantores pimba, as farturas na feira, o verde até perder de vista e zerámos.
Zerar é importante.
Não comemos no hotel, nem em grandes restaurantes, mas encontrámos uma residencial bem perto, onde serviam doses a 10 euros que chegavam bem para os quatro.
O nosso país está a abarrotar de sítios lindos para conhecermos. Alojamentos caseiros, rústicos, em tendas, onde tiver que ser, mas vão.







sábado, 14 de julho de 2012

O Tempo, esse grande escultor

Vivemos numa época em que se exige demasiado aos nossos filhos. Padrões escritos em livros de desenvolvimento infantil dizem-nos o que devem fazer os putos aos 18 meses, o que é suposto dizerem aos 2 anos, como é suposto crescerem, desfraldarem, enunciarem, soletrarem.
Não me esqueço nunca da directora de uma escola que visitei, quando andava à procura de escolas para a Alice, que me mostrava os trabalhos das crianças de 3/4 anos e afirmava, plena de segurança:
Aqui eles são muito puxados, fazem fichas, exercícios e conseguimos logo distinguir os trapalhões, dos mais concentrados.
Achei aquela merda nazi e fugi dali a sete pés. Eu não queria a minha filha muito puxada. Eu queria a minha filha a ser criança.
O António tem-se desenvolvido mais em férias, com praia, ar livre e brincadeiras, do que em toda a sua longa vida académica (que ainda não iniciou) :)
Ver os putos a gritarem, correrem, tropeçarem, sacudirem o pó e voltarem a levantar-se, é vê-los crescer ao seu ritmo. Sem pressas de os transformar em pequenos adultos.
Estou farta da nova pedagogia da treta. Farta dos quilómetros de fichas e tpc's. Farta de escolas com a mania que sabem mais do que os pais. Farta de crianças tristes.
Vamos lá tratar as crianças como elas merecem ser tratadas. Como crianças, sim?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Deve ser do escalpe escaldado

Chamei Joseph Grass ao Michael Grass.
Mas não vou mudar. Assim, caso o homem tenha o hábito de se googlar, não vem cá parar e, por conseguinte, não congemina uma vingança diabólica contra a minha pessoa.
Já para não falar que ele tem cara de José.

terça-feira, 10 de julho de 2012

baixinho, que é para não fazer muito barulho

Mas os meus filhos têm-se portado lindamente.
Dormem juntos na mesma cama, com uma excitação e cumplicidade comoventes.
Escavam juntos na areia da praia e refugiam-se das rabanadas de vento num abraço que comporta tanto de medo, como de gritos de entusiasmo.
Comem sandochas de queijo na praia e soltam hmmmm's de prazer.
A ilha ecológica (sim, aqui no Algarve, há muito dessas ilhas de lixo separado e arrumado :)) mesmo em frente à casa, é motivo da mais pura das alegrias, de cada vez que se aproxima o camião do lixo com uma grua. O António grita, em êxtase chamando toda a gente e a irmã acompanha-o até ao portão, onde os dois acenam ao senhor do lixo e lhe gritam olá.
As simples voltas ao quarteirão são excursões de escuteiros e o caminho de carro até à praia é acompanhado da sempre igual pergunta do António:
A praia, mãe, ó mãe, ó mãe, a praia? Pai, ó pai, a praia, pai?
E aqui me chibato e flagelo por ter pensado tão mal deles e ter imaginado as birras e os gritos e a loucura, em vez de ter esperado o melhor.
Estes putos estão crescidos e eu não me canso da alegria deles.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

O meu desafio de verão, ou quão patética ainda consigo ser

a) Uma imagem de verão:
Lóbulos das orelhas escaldados.
b) Uma sensação:
Couro cabeludo escaldado e dorido como um pénis de coelho.
c) Uma pintura:
manchas castanhas na tromba, que decidem aparecer  em cada local onde não espalho protector 50+.
d) Uma mensagem:
As férias cansam, mas eles adoram cada segundo do seu descanso.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Lamechice Profunda e boua

Isto é muito parvo, eu sei que sim. Até porque, apesar de te conhecer pelo lado que mais me prende, que é o lado que se escreve, só te vi uma vez.
Mas desde que entraste para o hospital, para a tua 12ª (foda-se, 12ª????!!!!) operação, que tenho andado mais quieta, mais lenta. O meu coração reserva algumas batidas e recolhe-se, reflectindo. Tenho andado estranha.
No fundo, tenho andado para aqui à tua espera, sem saber muito bem o que fazer, o que te dizer e isto é muito parvo, eu sei que sim. Mas eu ando assim, porque as pessoas que nos dizem tanto, querem-se a dizer-nos coisas quase todos os dias.
E pronto, hoje voltaste a escrever e eu gostei de ver o teu blogue, ali do lado direito da tabela, actualizado.
Isto de ter quase 36 anos confere-me o poder da lamechice profunda e assumida, sim. Mas não quero saber, tal como não quero saber de estar numa fila de trânsito, com a janela aberta a ouvir a Turma do Balão Mágico, sem putos no carro que desculpem a minha escolha musical.
Sou lamechamente livre e ser livre em lamechice é dizer que gostamos de quem gostamos e que temos saudades de quem gostamos.
Senti a tua falta, Silvina.