segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Capitães da Areia

Atirem-me areia para a boca e para os olhinhos se quiserem, mas nunca tinha lido Jorge Amado.
Nunca tive coragem de penetrar na linguagem tão carregada do Brasil. Adoro ouvir falar, ou melhor, cantar, porque os brasileiros não falam, cantam. Mas ler é outro departamento e sempre sofri de um auto boicote de leitura a tudo o que estivesse em português do Brasil.
Enterro agora a cabeça debaixo do pequeno livro que leio e desfiro vários golpes no meu próprio crânio com a capa do mesmo, para expiar este pecado capital.
Tem acontecido uma coisa absolutamente fascinante com os Capitães da Areia. Dou por mim a ler em voz alta, para ouvir o fraseado.
Escrever com o dom da oralidade, sem perder o tom das letras é puta de difícil cara, mas o Jorge Amado conseguiu-o com um coxame às costas.
Vou acabar este livro com fluência no calão do Brasil e anotar cada palavrinha maravilhosa que descubro. Palavras que só os brasileiros usam para definir coisas chatas e sem graça.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Para vocês aí desse lado. Um convite

Para todos os que ainda passam por aqui em busca de alguma coisa que vos faça sentido.
Para todos os que passam só de vez em quando, mas continuam a passar, ainda que de vez em quando.
Para todos os que gostam, os que gostam assim-assim, os que vão gostando, consoante a disposição solar, ou hormonal do momento
Para todos os que acham que isto faz algum sentido, ou sentido nenhum.
Gostava muito que aparecessem no lançamento do meu livro. Gostava mesmo muito.
Bem sei que aquilo que eu gosto, ou deixo de gostar, pode bem ser igual ao litro para a maior parte de vocês, mas é que eu gostava mesmo de vos conhecer, de vos ver materializados à minha frente, como que por magia :)
Topam?

# Vou dando novidades quanto à data e ao local, mas para conseguir dormir melhor, uma vez que isto de lançamentos é absoluta novidade para mim, a menos que falemos de lançamentos de sacos do lixo para o contentor, gostava de saber a vossa inclinação para este convite que vos faço.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

É obrigatório sonhar

Se ficar é morrer, partamos.
Se viver é ter que abdicar daquilo que nos é confortável, sintamo-nos incómodos. O incómodo será apenas temporário. Tomará do nosso tempo o estritamente necessário à conquista da vida. Da nossa vida.
Se tememos perder-nos, deixemo-nos de temores e ousemos arriscar um novo caminho.
É nos caminhos novos que se descobrem renovadas verdades de nós próprios. É nos caminhos novos que pode bem assistir-se ao milagre do inesperado.
Se é do risco que fugimos, por comodismo conformado dos que nada chamam de diferente, arrisquemos até que faça ferida. A ferida sarará para nos recordar que é possível sobreviver a quase tudo. Menos à morte.
Se já nada nos comove, se já nada nos move avassaladora e irreversivelmente. Se já nada nos impele a sairmos dos limites de nós próprios. Se sonhamos nada, é nada que somos. É nada. E então mais vale entregar os pontos de uma vez por todas. Mais vale o limite da terra sobre o nosso corpo frio e sem vida, do que o limite imposto à nossa inerte alma mutilada.
Sonhemos então que é possível continuar a sonhar.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal... Na província neva

Natal... Na província neva.

Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa




Para a Silvina



Para a Silvina, desejo-lhe todos os abraços do mundo, todos os beijos trocados, todos os significados possíveis da palavra amor.
Para ela desejo um mundo inteiro de sentimentos bons por si própria. Porque ela é muito provavelmente, a pessoa mais merecedora deles que conheço.

Não é assim tão complicado


Cresci sem grande amor ao Natal. Nunca ninguém fingiu gostar das festividades, nem nunca ninguém colocou um bocadinho de magia, ainda que fingida ( como, aliás, toda a magia) durante dois dias seguidos.
Cresci a pensar que o Natal mais não era do que hipocrisia e frete supremo e foram precisos alguns anos até aceitar esta época com serenidade, sem complexos. Com a relevânica que merece.Nem de mais, nem de menos.
Foi preciso olhar pelos olhos da minha filha para reaprender tudo o que desaprendi na minha infância.
Temos saúde (ó meu Deus, como importa celebrar isto), temos amigos, temos família (ainda que ligeiramente disfuncional) e temos amor.
E não faz mal tirarmos um dia do calendário, para celebrarmos o que realmente importa, com doces, vinho e o diabo a sete (blasfémia).
Sim, é claro que podemos fazê-lo todos os dias sob todas as formas.
Mas termos datas fixas, em que eles já sabem que se celebrará de determinada maneira. Em que eles antecipam a reunião familiar com expectativa comovente, abrindo janelinhas de um calendário. Termos datas fixas que nos recordem a importância de termos tudo aquilo que nos é fundamental, é bom.
É bom, sim. E não me lixem os bons na minha vida. Deixem-me agarrá-los com força, enquanto os há.
Por isso, acho importante pegar nestes dois dias e tentar, repito, tentar, entre pratos de papel para deitar fora, bocados de rabanada colados nos sofás, putos enlouquecidos pela excitação, migalhas de bolo rei dentro da cama e familiares chatos como piolhos púbicos, fazer deles uma boa memória.
Não é assim tão complicado. Nós é que gostamos de complicar.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Porque nem só de cabrice se trilha o caminho da maternidade

Andei perdida.
Durante demasiado tempo, escrevi apenas para ti. Para que te lembrasses sempre que escrever é o que mantém vivo o nosso amor.
Não cabiamos aqui. Aqui era apenas o meu lado menos triste. Menos sério. E esqueci que o Vontade de Regresso, foi criado para que jamais me esquecesse da importância de ter para quem regressar, quando se parte. As coisas importantes na minha vida, nem sempre se revestiram de facilidade, pois foram coisas do coração e termos que correr por aí, de coração exposto e despido, para que qualquer um possa lê-lo, interpretá-lo, amachucá-lo é difícil. É coisa de grandes pessoas e eu sou uma pessoa pequena, cheia de medos e inseguranças.
Por isso, o meu coração saiu um pouco daqui. Criei um espaço onde escrevia o quanto eras importante, para que soubesses sempre, pela palavra escrita, que eras o meu amor maior.
Depois nasceu o teu irmão e a ponta dos meus dedos desenhou vezes sem fim, palavras para os dois, para um de vocês e de novo para os dois, pois sempre fiz questão de vos envolver dentro do que mais me importava a mim. Dentro das letras que me dizem e que vos descrevem.
Ontem percebi que também vocês me escrevem já.
Tenho as tuas folhas riscadas, guardadas como um tesouro, António.
Tenho as tuas cartas, escritas com a incerteza dos primeiros passos, com os erros das primeiras letras unidas, mas com mensagens determinadas e constantes. Mensagens de amor. E guardo-as dentro das páginas do livro que leio todas as noites, para lhes poder mexer. Dentro das gavetas onde vou diariamente, debaixo do meu pequeno e gasto computador.
Tenho-as sempre por perto, para que possa relê-las e saber-me importante. Saber-me enorme, saber-me merecedora de um amor maior.
Vocês têm sido o caminho mais sinuoso e mais a direito da minha vida.
Vocês são aquilo que importa. E eu hei-de regressar aqui, de vez em quando, de coração exposto e despido, sem medo de amachucá-lo, pois ele bate na mesma e é lamechas, sim. Tão lamechas quanto o coração de uma mãe consegue ser. Mas isso não é necessariamente mau. Isso sou eu.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Detesto tentar gostar

de pessoas, de filmes e, acima de tudo, de livros.
Não deveriamos ter que tentar gostar. Tentar gostar é um dos esforços mais inúteis do planeta. Ou se gosta, ou não se gosta.
O gostar mais ou menos, cai na esfera do não gosto, mas causa-nos aquele impulso estúpido de não desistir logo. Pode ser que melhore, pode ser que esteja enganada, pode ser que...
É precisamente o que me está a acontecer com este livro. Alguém me explique, por favor, o que é que leva alguém a pensar que a sua vida profundamente bocejante, reveste alguma espécie de interesse para o comum dos mortais, como eu?
É certo que ainda não cheguei a meio do livro, mas até agora, fiquei a saber mais sobre a vida do criador do Peanuts (charlie Brown e companheiros) do que da história do auto biografado.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Abracemos a nossa Cabrice

Um dia ainda vou escrever crónicas (adoro a palavra crónicas, dá todo um outro status às merdas que alguém decide escrever) que ajudem as mulheres a sentirem-se menos culpadas.
Crónicas que as ajudem a perceber que nenhuma mãe é perfeita e que todas nós gritamos com os putos de vez em quando e desejamos embarcar numa nave espacial em direcção a Marte, só para termos um bocadinho de silêncio.
Não é crime de lesa majestade, se os putos não andarem com a roupa bem passada e jantarem cachorros quentes de vez em quando. Tal como não é crime de lesa pátria não andarmos constantemente aprumadas para irmos despejar o lixo, ou passear o cão.
Todos, repito, todos os putos fazem cenas e são insuportáveis de vez em quando. Os vossos crianços não têm que ser perfeitos para serem amados. Digo-vos, sinceramente, apesar de ter a certeza absoluta de que os meus filhos se adoram um ao outro. Muitas são as vezes em que tenho que apanhar pedaços do meu próprio cérebro pelo chão, quando ambos decidem pedir-me justiça e que decida qual deles tem razão e que interceda e que reaja e que faça qualquer coisa.
Mil vezes pior do que o Juiz Decide, é a Mãe decide, sem martelo para bater sobre a mesa, nem sobre as suas ricas cabeças.
Ter que passar o dia inteiro a fingir que não sou uma cabra cruel de vez em quando, é cansativo, caraças. Muito cansativo. Libertemo-nos do estigma da perfeição e assumamos a nossa cabrice esporádica. Não é crime, é apenas humano.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Onde é que ouvi isto?

Não me lembro onde, mas era mais ou menos assim:
Muitas vezes os medíocres singram, porque têm uma capacidade notável para promover a sua pessoa.

Urgências para 2013

Deitar a maior parte da minha insegurança no caixote do lixo sentimental.
Deixar de usar garfos de metal nas frigideiras anti-aderentes.
Ambas com a mesma ordem de urgência.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

meninos da mamã (um tema recorrente)

A minha alma fica sempre um bocado atrofiada, de cada vez que vejo um pai, ou uma mãe impedir os filhos machos de brincarem com cozinhas e ferros de passar.
Os putos gostam de fazer os cozinhados e servir cafés, mas não podem, pois que não é coisa de rapaz e são constantemente chamados à atenção por isso.
Muitas vezes estas proibições chegam das mulheres que mais se queixam de os maridos não fazerem a ponta de um corno. Vai daí, o melhor que se lembram de fazer é boicotar as capacidades dos próprios filhos.
Alguém que me explique esta mentalidade, porque eu não chego lá.
Quer dizer, eu até entendo barbies, mas caraças, uma cozinha?
Não é assim que vamos contribuir para uma geração livre de meninos da mamã.
É importante o ninho e as raízes, sim. Mas mais importante ainda, são as ferramentas que lhes damos para conseguirem voar sozinhos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

prefiro atirar notas de euro pela sanita

a gastar dinheiro em:
Velinhas perfumadas-que-me-provocam-náusea-incontrolável.
Ambientadores que se ligam às tomadas, ou que projectam esguichos de cheirinho para o ar, quais mini câmaras de gás, que nos apanham desprevenidos com odor fantasmagórico. Sendo que estou plenamente convencida dos danos cerebrais a longo prazo, que a exposição aos esguichos e odores acarreta.
Ambientadores que, supostamente, servem para apertar após uma ida à casa de banho e resolver toda a questão do cheiro das nossas entranhas.
Cenas para colorir a água do autoclismo, ou perfumar a mesma.
Odeio. Se a vossa casa cheira mal, ficará apenas a cheirar a merda com perfume.



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

adenda para a gralha

que quer fazer bolachas de manteiga de amendoim e não sabe o que é papel celofane (shame on you, sua Martha Stewart de terceira categoria).

Dicas para Desenrascar com classe

Agora a sério, quem é que não anda teso, ou com falta de vontade de gastar dinheiro em presentes para adultos-que-já-têm-tudo?
Apesar de aqui em casa termos instituido a regra (maravilhosa, diga-se de passagem, tirando a parte em que eu própria não tenho direito a presentes) de presentes só para putos, também sei que poderemos gostar de dar mimos a pessoas de tamanho crescido, que os mereçam, claro está.
No Ikea, têm estes frascos para especiarias. Um pack de 4 custa 3,50€.
Se tiverem Bimby, saquem uma receita de doce de abóbora, de laranja, de marmelo, de cocó, porque é certo que sairá bem e com esforço zero. Depois podem gabar-se e dizerem que gastaram imenso tempo na trabalhosa confecção da compota caseira.
Se não tiverem bimby, comprem um frasco de geleia de um fruto qualquer e vertam o conteúdo para dentro dos frasquinhos. Podem gabar-se da confecção à mesma, mas certifiquem-se que fogem à questão, sempre que vos perguntam como fizeram o doce. Utilizem frases vagas e evasivas e sorriam muito.
Depois, peguem num pequeno penduricalho da árvore de natal (não falo de bolas gigantes de vidro, claro está), daqueles que têm um fio para prender, ou um lacinho, ou até aqueles identificadores de prendas, com um pequeno fio e coloquem em redor da rosca do frasco, para personalizarem.
Podem fazer um upgrade e acrescentarem uns biscoitinhos de gengibre com motivos natalícios. Neste caso, teria mesmo que comprar feitos, pois todos os meus biscoitos ficam perfeitos para partir cremalheiras.
Agora façam vénias ao meu génio natalício e gritem oh-oh-oh

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

dissecando os maridos das outras



1- Esta é, muito provavelmente, a música mais ingénua jamais escrita por um gajo.
2- Por outro lado, é também uma das músicas mais perigosas em termos de lavar o cérebro aos nossos pequenos rebentos femininos.
Vejamos:
"Toda a gente sabe que os homens são brutos (...) Toda a gente sabe que os homens são lixo (...) Que cheiram muito a vinho (...) abaixo de bicho"
Ora, pois que isto está tudo muito certo, mas porquê estragar tudo com o refrão?
"Mas os maridos das outras não, pois que os maridos das outras são o pináculo da perfeição" (...)???!!!!
Tenho novidades chocantes para ti, Miguel Araújo. Novidades que talvez possam colapsar esse coração ingenuamente teenager. E vou dar-tas em modo canção, deixando-te com a minha refinada poesia:
"Mas os maridos das outras são, mas os maridos das outras são, iguaizinhos ao meu maridão".
Aos 37 anos, já deixei de pensar que os outros maridos das outras são melhores do que o meu.

Quanto ao ponto número 2:
Acho chato ouvir a minha filha de 6 anos cantarolar para o pai:
"Toda a gente sabe que os homens são lixo e que cheiram muito a vinho"
Não havia necessidade de macular tão pequeno cérebro com letrinhas que, apesar de justas, precisam de percorrer o caminho necessário à assimilação.

De resto, confesso, que não fosse passarem-na tantas vezes na rádio, eu aprenderia a adorar esta canção, tirando o refrão.
Até porque tenho sempre vontade de assobiar e bater com a mãozinha no volante, ao ritmo dela. Tem qualquer coisa de Hawai e de Jack Johnson, que me deixa sempre bem disposta :)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

pessoas

que decidem ficar paradas à beira da passadeira para peões, como se fosse o sítio mais idílico para conversarem, ou pensarem na vida.
Pessoas que me obrigam a parar para vos deixar passar, quando na realidade não têm o menor desejo de atravessar. Algumas até esbracejam, para que eu retome o meu caminho, quase ofendidas com a minha travagem:
Arranjem lá um banquinho de jardim, sim?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

* "You is Good, You is Kind, You is important"

Ontem, enquanto olhava as fotografias de Natal da escola da Alice e via o seu cabelo em desalinho. Ontem, quando me preparava para lhe dizer:
- Caramba, mas não sabiam pentear-te? Olha só para o teu cabelo, que desgraça!
Virei-me para ela e dei de caras com o seu olhar risonho, pleno de orgulho pelas fotografias, a transbordar vontade de partilhá-lhas comigo.
Ontem mordi a língua e guardei as considerações para mim.
- "Estás tão bonita Alice, olha só para este sorriso, que maravilha!"
E fiz questão de espetar com uma das fotografias na minha parede magnética, bem no centro.
Ontem e todas as noites, quando vou deitá-los e aconhegá-los, faço questão de lhes dizer:
- És a(o) melhor filha(o) do mundo. Vou sempre estar pertinho de ti e ajudar-te em tudo. Sempre, sempre, sempre.
Ele ainda não percebe patavina das minhas considerações maternas, mas gosta do mimo e já responde que me adora.
Ela fica nas nuvens.
- Sabes, Alice, quando fores mais crescida vou sempre ajudar-te. Vou ajudar-te com os teus filhotes, com as tuas dificuldades. Vou fazer festas com as tuas alegrias.
- Mãe?
- Sim.
- E se eu tiver tantos filhos como os dálmatas?
-Cof.Cof (quase me borro pelas pernas abaixo). Bem, nesse caso vou precisar da ajuda de mordaças, cordas e algemas, mas conta comigo . Conta sempre comigo.


*A  Aibileen, do livro "As Serviçais", sussurrava estas palavras ao ouvido da menina que ajudava a criar, como se assim pudesse imprimir-lhe o amor próprio que os pais da criança lhe negavam.
O que me leva a outra questão, se ainda não leram as Serviçais, deviam.