quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

viajar assim é viagem

De todas as partidas guardo aquela que me trouxe aqui, ao meu regresso.
De todas as viagens o retorno de poder lembrá-las sempre, sem condicionante de tempo, ou de lugar físico.
De todas as chegadas aquelas em que vi o que lembraria todos os dias, sorrindo apenas para dentro, com aquele movimento infinito e invisível dos que não querem ser vistos felizes, mas que o são, pelo breve instante em que se recordam a viajar.
Viajei sempre para me achar pequena e assim me encher da grandeza necessária ao quotidiano de coisa nenhuma.
Agora, eis-me aqui, pequena de viagens, mas infinita na recordação.
Não viajo há demasiado tempo e sinto a falta do arrepio na pele medrosa à partida, falta daquele medo irracional de um qualquer imprevisto que me impeça de regressar atempadamente à minha vida.
Sinto a falta dos outros fora daqui e de mim dentro do que é deles, sentindo-me nada e sabendo-me, no entanto, um mundo inteiro.
Sinto tanta falta de viajar, que me dói fisicamente cada país que não sei, cada terra que não vejo, cada pedaço do mundo que não alcanço daqui, da minha casa.
Um dia destes, não muito longe de hoje, retornarei a um qualquer lugar que ainda não conheço e encher-me-ei de saudades e memórias novas. Depois chegarei plena. Uma plenitude temporária, mas imensa.

Salto agulha e outras manifestações anti calçada, estou convosco

A todo o mulherio que se quedou em êxtase com o anúncio da retirada da Calçada Tuguesa, perspectivando assim o dia em que poderia sair para o trabalho, todos os dias sem excepção, com o seu salto agulha, sem correr o risco de ficar com o dito salto Jimmy Choo enfiado numa frincha da calçada.
A todo o mulherio extasiado com uma medida feita finalmente a pensar nos seus saltos e que se prostrou de joelhos em prece camarária, vendo-se agora a braços com uma petição que circula por aí, ousando interferir com o legitimo direito ao salto agulha:
Nada temam, pois espero que se juntem a vós, na vossa angústia e tenacidade, todos os deficientes que não possuem cadeiras de rodas todo o terreno, todos os portadores de carrinhos de bebés que não têm tracção às 4 rodas, nem amortecedores em aço galvanizado. Espero que se juntem à vossa luta pessoas que usem muletas e que possuam algum grau de incapacidade motora. Percamos a cabeça, espero que se juntem a vós aqueles que simplesmente não conseguem andar em cima daquela merda mal mantida, cheia de poia de cão entranhada e socalcos constantes e ganharemos a luta.
Estou-me positivamente a cagar para a calçada portuguesa. Tirando alguns locais emblemáticos onde, de facto, temos alguns desenhos pedronis belíssimos (de fazerem chorar as pedras da calçada), se pensarmos em todos os milhares de passeios, feitos supostamente a pensar nos peões e que são verdadeiras provas de obstáculos, eu quero que a calçada portuguesa se desintegre e seja vendida, pedra a pedra, na Christíe's, juntamente com os Mírós.
E não, não tenho por hábito usar salto agulha.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Pensamentos que tenho e que até a mim fazem espécie

Espero que se lembrem de converter a casa do Presidente-ucraniano-em-fuga numa estância balnear. Gostei da paisagem idílica, do ursinho pardo em cativeiro, da neve como pano de fundo, dos pequenos lagos atravessados por pontes ao estilo japonês.
A aparência de Chalet é, no entanto, contrariada pelo interior faustoso e nauseante em tons de dourado, mas isso damos um jeitinho e pomos uns naperons.

Presidentes que entram sem fortuna e que saem com pés de banheira em platina e torneiras de bidé em ouro são de a gente desconfiar, carago.

Vê como entra alguém para o poder e vê como sai. Só aí alcançarás a iluminação.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

notícias relevantes da internacionalidade portuguesa



José Chateux Blanche é a rainha do Carnaval desse mítico recanto do Carnaval mundial chamado Estarreja. Internacionalmente reconhecido pelo seu corso pró pneumonia e mulheres de bunda gelatinosamente agitada, será agora foco de interesse universal, uma vez que provou que o carnaval ali se leva a sério.


Michael Grass is back.
Depois de um longuíssimo interlúdio na Sibéria, durante o qual se penitenciou, orou e estudou profundamente os ensinamentos de origem soviética, Michaelis decidiu tornar à mãe pátria. Visivelmente envelhecido após os longos anos exposto à tundra da culpa, ele regressa. Acanhado é certo, andar encurvado pela timidez que o caracteriza, mas revigorado por uma nova esperança que consegue ler-se no seu humilde olhar. E os portugueses recebem-no em braços , entoando temas pré revolucionários, com afinação e decoro. Conhecidos pelo seu caloroso acolhimento, os espécimes das bordas do Atlântico decidem produzir piadas jocosas e sorrisos malandros, mas nada além disso.
Compensa sempre regressar a Portugal após longos interlúdios na Sibéria, ou em Paris.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Queria tanto fazer do pouco muito

E do nada alguma coisa relevante.
Mas tirar nada do nada é humano e, da última vez que verifiquei, ainda fazia parte desse patético grupo de seres vivos que não conseguem tirar lições de grandeza de tudo aquilo que sucede.
A merda acontece e essa, companheiros da humanidade, não passa de merda. É limpar o sapato e prosseguir, sem grandes reflexões.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

ódios que não são de estimação,

mas que fermentam como bolor dentro de mim:
-Carnaval e a obrigatoriedade de mascarar os putos para a escola. Odeio tudo. Este ano já avisei: Pinto um bigode aos dois e espeto com óculos para ver filmes 3D, sem as lentes. Não quero saber do que é que vão, o que é que querem. Chega de gastar dinheiro nesta rebarbada bosta. Odeio e tenho pena de não ter conseguido passar a minha implicância a nenhum dos meus putos.
- Que ofereçam brinquedos da loja do Chinês aos meus filhos. Eh pá, a sério, não fico melindrada que não comprem nada, juro que não. Fico mais melindrada quando, de entre as milhentas alternativas não tão caras, como livrinhos a 3 euros, carrinhos nos supermercados a 2 euros, missangas a 4 euros, vejo que optaram por penetrar na loja do chinês para escolherem um carrinho cheio de farpas, pontas aguçadas, a largar tinta e coberto de uma espécie de pólvora, um pó fino preto.
Prefiro mil vezes nada.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A perfeição é sobrevalorizada

Leio muitas coisas por aí.
Casais que estão juntos há uma eternidade de anos e que dão conselhos sobre relações duradouras, como se existisse alguma fórmula mágica para tal.
Casais que estão juntos há poucos meses e que dizem que é para sempre, sendo que já o disseram de todas as outras vezes que estiveram noutras relações eternas.
Leio pessoas que fazem críticas a livros de outras pessoas e que constroem teorias sobre o que é um bom, ou um mau livro, fazendo da sua opinião alguma espécie de dogma universal.
Leio pessoas que constroem frases magníficas sobre a pobreza da escrita alheia e que tecem a sua arte crítica sobre palavras dos outros, com pomposidade ligeiramente nauseante.
Leio pessoas que são pagas para escrever para os outros e o fazem num tom de diário íntimo que apenas elas entendem.
Leio sobre prodígios da maternidade e paternidade que não entendem como é possível existirem pessoas que não desejam um rancho de filhos.
Leio sobre pessoas que empreendem algo e o prosseguem até ao fim, sem percalços, nem desvios.
Leio sobre prodígios de tudo e mais alguma coisa e sinto-me tão pouco prodigiosa em tantas coisas, que me afundo numa estúpida melancolia de ser assim.
Se existem pessoas que os leem e deles retiram consolo, ou prazer, não terão esses livros, criticados pela fina nata, algum mérito, por levarem as pessoas a ler?
Se existem casais juntos há milhares de anos, terão eles mais mérito do que os casais que entenderam não ser capazes de prosseguir? Serão estes mais falhados, por não possuírem as receitas milagrosas para um amor eterno?
Se existem pessoas que não desejam filhos e que os não têm, ignorando qualquer espécie de pressão social, não serão essas pessoas mais honestas, do que aquelas que os têm sem qualquer tipo de desejo pessoal, mas apenas para prosseguirem tradição?
Se existem pessoas que desejam apenas um filho, terão elas que trazer ao mundo outro rebento, apenas para que o filho nascido não fique órfão de irmão, como se um filho único fosse alguma espécie de aberração da natureza?
Este mundo tão pleno de perfeição, ditada por alguém que não conheço, mas que parece tudo comandar, maça-me e deixa-me neurótica e eu tenho uma aprofundada panóplia de problemas com os meus estados neuróticos, pois, geralmente, levam-me a comer pratadas de Cerelac ao pequeno-almoço e também isso é negado pelos parâmetros da deusa da da salubridade feminina, seja lá essa puta quem for.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As histórias que terminam com o primeiro beijo

Para mim, as histórias mais românticas sempre foram as que terminavam com o primeiro beijo. Por isso, os livros da Jane Austen são os que mais memórias romântico adolescentes me trazem.
Um suave toque de mão entre os dois protagonistas era dez vezes mais poderoso do que toda a queca possível de todos os romances eróticos agora tão em voga.
Um olhar de soslaio, as palavras que nunca eram trocadas, tinham o poder do mundo inteiro e continham, ao invés de exporem. Tudo ali é romântica contenção, antecipação, espera. Tudo ali é de uma intensidade profundíssima, mas nunca posta em acção, até ao parágrafo final e isso sempre me encheu as medidas.
Os dois grandes livros da Jane Austen, deram dois grandessíssimos filmes, o Sensibilidade e Bom Senso (adaptado pela própria Emma Thompson, de forma sublime) e o Orgulho e Preconceito, interpretado por uma actriz que geralmente me complica com o nervoso, pelo número infindo de boquinhas que produz, mas que neste filme encarna uma irrepreensível Elizabeth Bennet.
Quanto a mim, são das duas melhores adaptações de livros ao cinema, se é que posso opinar sobre adaptações de livros ao cinema, pois percebe-se, em toda a escala, a devoção que quem o fez tinha pelos livros da Jane Austen, na sua imensa delicadeza de sentimentos.
Também eu sou uma devota incondicional dos livros, séries e filmes e ainda hoje os revejo, de coração palpitante e exaltado, à espera do desfecho que me fará respirar de alívio e acreditar, mais uma vez, nas grandes histórias de amor :)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Rita

Hoje faz 1 ano sobre o lançamento do meu livro e não é no meu livro que penso, é em ti, Rita.
Querias fazer-me uma surpresa, tinhas comprado um bilhete de avião e preparavas-te para aterrar inesperadamente naquele evento, que me trazia nervosa há tanto tempo, por ser esta coisa tímida e sem jeito para eventos de espécie alguma.
A doença trocou-te o destino, programado com tanto carinho e ficaste retida em Paris, mas enviaste a tua irmã e o teu padrasto em tua representação.
Queria dizer-te tudo aquilo que ainda sinto quando me recordo da nossa breve amizade e confirmar-te que não deixo de pensar em ti, só porque vai fazer um ano que morreste. Sei que existe uma certa solenidade, uma quase incapacidade de falarmos nos nossos mortos, com medo de abrir feridas naqueles que te foram mais próximos, mas acho tudo isso uma profunda estupidez, pois as pessoas não morrem só porque morreram e tu, Rita, jamais serás uma ferida aberta, mas uma memória que farei questão de não tapar com sombra alguma.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

TPCês

Durante muito tempo fui contra os trabalhos de casa das crianças, ponto final. Hoje em dia sou contra os trabalhos de casa na sua vertente excessiva e desmesurada, reticências.
Sempre vi várias mães exaustas, que chegavam do trabalho e ainda enfrentavam resmas de fichas e dúvidas e stress. Já para não falar nas crianças que, cansadas da escola, ainda aterravam numa segunda escola, em casa, onde o tempo seria de descanso e recarregamento de baterias.
Mas chegou a vez de ter uma filha na primária e, se no 1º ano, tudo foi relativamente suave, com TPC's duas vezes por semana, no 2º ano percebo que a Alice tem mais dificuldades em acompanhar tudo apenas na escola.
Trazem trabalhos à sexta feira e só têm que entregá-los na quinta feira seguinte, cabendo-nos gerir o tempo e os horários, sem grande stress, nem quantidades excessivas.
Mas acontece que não tenho uma daquelas filhas prodígio na escola. É um prodígio em milhões de outros aspectos, é certo, e, verdade seja dita, tira sempre muito boas notas, mas neste ano essas notas envolvem trabalho de bastidores e com isso quero dizer, a nossa atenção.
É preciso motivá-la, corrigi-la, empurrá-la para fora da preguicite, típica de uma criança da sua idade, que me pede cromos da Violetta (essa grande pindérica argentina)e se embasbaca em frente do Sponge Bob. Mas é sempre preciso fazermos qualquer coisa mais.
Não basta lançá-la para dentro da sala de aula e dizer-lhe: Aprende! Pois por muitas horas que tenha de estudo acompanhado, esse tempo lectivo em que tentam colmatar dificuldades; há dificuldades que ela só ultrapassa praticando muito, com alguém que lhe preste atenção exclusiva.
Não me venham com as tretas de que têm que ser 100% autónomos, o que é verdade em certa medida e a partir de uma determinada idade, nem com factos consumados relativos a crianças prodigiosas que conseguem cumprir rigorosamente tudo sem ajuda, nem encaminhamento adulto, pois que estes são casos raros.
Sempre soube que isto dos putos é uma grande responsabilidade, que não podemos simplesmente despejá-los do útero e dizermos: Agora cria-te, vá! Brinca aí com isso, dorme aí várias horas seguidas e deixa-me descansar, cala-te aí, que eu preciso de silêncio! Sempre soube que isto dos putos envolve despirmos várias camadas de preguiça e egoísmo. Mas foi com a entrada no segundo ano do ensino básico que me apercebi do verdadeiro grau de responsabilidade da coisa e a modos que me sinto cansada. Não protesto, pois sei que em breve ela será mais independente, mas sei também que a independência passa por uma primeira fase de encaminhamento.
Depois ela ultrapassa aquilo que não tinha entendido muito bem e enche-se de segurança, alegria e quer fazer mais e praticar mais um bocadinho. Depois tira Muito Bons e Excelentes e sente-se segura e confortada, mas foi preciso praticar. É que não tenho milagres caseiros, nunca tive, tudo aqui envolve trabalho. É claro que há brincadeira e tempo livre também, mas não tenho crianças que se criam sozinhas...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Miró-nes

Ao ouvir o nosso Primeiro M. a dizer que tinha feito um acordo chave na mão, com a famosa leiloeira britânica, em relação aos quadros do Miró, fiquei feliz por saber que um homem do seu gabarito ainda se recorda dos tempos em que vendia casas na Remax de Massamá.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

pergunta para efeitos de coisa nenhuma

Há mesmo quem esteja convencido que acrescentar pequenas rodelas de fruta ao seu manjar o torna mais adelgaçante?
A ser verdade, passarei a cortar pequenos pedaços de fruta colorida e a atirá-la sobre o Nestum de Mel.