quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Salto agulha e outras manifestações anti calçada, estou convosco

A todo o mulherio que se quedou em êxtase com o anúncio da retirada da Calçada Tuguesa, perspectivando assim o dia em que poderia sair para o trabalho, todos os dias sem excepção, com o seu salto agulha, sem correr o risco de ficar com o dito salto Jimmy Choo enfiado numa frincha da calçada.
A todo o mulherio extasiado com uma medida feita finalmente a pensar nos seus saltos e que se prostrou de joelhos em prece camarária, vendo-se agora a braços com uma petição que circula por aí, ousando interferir com o legitimo direito ao salto agulha:
Nada temam, pois espero que se juntem a vós, na vossa angústia e tenacidade, todos os deficientes que não possuem cadeiras de rodas todo o terreno, todos os portadores de carrinhos de bebés que não têm tracção às 4 rodas, nem amortecedores em aço galvanizado. Espero que se juntem à vossa luta pessoas que usem muletas e que possuam algum grau de incapacidade motora. Percamos a cabeça, espero que se juntem a vós aqueles que simplesmente não conseguem andar em cima daquela merda mal mantida, cheia de poia de cão entranhada e socalcos constantes e ganharemos a luta.
Estou-me positivamente a cagar para a calçada portuguesa. Tirando alguns locais emblemáticos onde, de facto, temos alguns desenhos pedronis belíssimos (de fazerem chorar as pedras da calçada), se pensarmos em todos os milhares de passeios, feitos supostamente a pensar nos peões e que são verdadeiras provas de obstáculos, eu quero que a calçada portuguesa se desintegre e seja vendida, pedra a pedra, na Christíe's, juntamente com os Mírós.
E não, não tenho por hábito usar salto agulha.

8 comentários:

gralha disse...

Confesso que me custa muito, porque a luz única de Lisboa é muito devida ao reflexo da calçada, mas tenho de concordar com a iniciativa.

dona da mota disse...

Estou com a Gralha, custa um bocado. É tão bonita, pá...
Mas lá está, não é prática.
mas olha que quando vou aqui à vila, o centro é todo em paralelos, á antiga, com os passeios em calçada. Maria Vitória treme que se farta a andar nos paralelos mas fica-me mais barato do que pagar ginásio... :)

Ana C. disse...

Mais quais luz, meninas, quais luz, eu só vejo é a escuridão dos tralhos :)
Paris, que é a cidade da light, não deixa de ser bonita por ter passeios não produtores de tralhos.
dona da mota, levas equipamento apropriado para paralelos? Bastão, botas de alpinismo e etecetera?

Merenwen disse...

Que exagero, desculpem lá! Morei em Lisboa 5 anos e usava saltos altos. óbvio que nao é o pavimento mais prático do mundo mas haja lá pachorra pra futilidade dos saltos altos. É histórica, dá um ar especial a Lisboa e é só nossa. Agora toca de tirar porque nao é prática e somos todos muito frágeis, preferimos ter uma banal rua igual a todas as outras ruas da Europa porque nos custa muito caminhar, quando a maior parte da populacao lisboeta passa o dia alapado no escritório e o exercício só devia ser bem vindo. Cadeiras de rodas? E que tal colocar acessos? É preciso desmantelar tudo?! Vamos lá desembolsar uns milhoes de euros a acimentar tudo porque ali o senhor da CM de Lisboa tem um primo que trabalha nos alcatroes e precisa de ganhar uns trocos!!Desculpem mas como veem nao concordo nada com isto!

Ana C. disse...

Merenwen, pois cá para mim era alcatroar todos os passeios em calçada. Lisinho, com acessos às passadeiras transponíveis. A cidade deve ser um local onde apeteça caminhar e não uma prova de obstáculos. Vale para todas as cidades do país e não apenas Lisboa. Eu própria estou a pensar pegar num martelo pneumático e rebentar com a calçada toda da minha rua. Tarefa fácil, pois que está toda a saltar.
Enfim, opiniões.

Naná disse...

Confesso que esta iniciativa também me causa uma certa estranheza. Se se trata de questões de acessibilidade, não vejo necessidade de arrancar a calçada portuguesa toda. Há formas totalmente diferentes de criar acessibilidade sem ser necessário arrancar a calçada toda. O que me parece é que os calceteiros são cada vez mais escassos, pagam-se a peso de ouro e o pavê é bem mais baratusco.
Quanto à limpeza, aí também me parece resolvível facilmente. Há lavagens com jactos que podem ser feitas uma vez por mês...

Agora que dá trabalho repor calçada (adoro os Neo-Fofo!) lá isso dá...
Custa-me um bocado que destruam a calçada assim. Sou uma saudosista, é o que é!

Ana C. disse...

Acho que deve haver bom senso e substituir todos os passeios, para os quais ninguém olha, nem se emociona ao caminhar sobre eles e torná-los mais amigos dos pedestres, deixando ficar aqueles que são de facto emblemáticos na cidade.
Andar a pé, por exemplo, em Barcelona, empurrando um carrinho de bebé é um prazer. Andar a pé em qualquer cidade do país empurrando um carrinho de bebé É UM PESADELO. Portanto, posso apenas começar a imaginar como será para alguém em cadeira de rodas.

triss disse...

Eu tenho má circulação nas pernas, de maneiras que saltos altos estão fora de questão. Tenho pena, uma (algumas) mulher com saltos altos fica muito bonita.