quinta-feira, 20 de novembro de 2014

chuva

Chove. O céu escuro, o som da água no chão, nas paredes, no telhado, no mundo inteiro.
Chove e o negro do dia não passa por dentro. Queremos que a noite chegue depressa, para podermos fazer da chuva apenas um som acolhedor, sem termos realmente de lidar com ela, mas a noite demora a surgir, talvez porque pareça sempre de noite quando chove.
Quero tê-los todos por perto, debaixo do céu da nossa casa. Ele segurando a ponta da minha meia grossa, ela no piano, a treinar melodias pequenas que nos enchem de vida, o mais pequeno a querer interrompe-la para nos mostrar que também é digno de atenção.
Chove e eu digo que devo aproveitar a vida, o trabalho que, apesar de cada vez mais desgastante, tem coisas boas. Chove e eu tento encontrar o sol atrás das nuvens, o calor escondido sob o vento forte que nos derruba, as folhas ainda verdes que pingam, vergadas ao peso da chuva. Chove e eu tento encontrar a puta da magia por detrás de tudo, a beleza implícita, como mandam as frases de motivação que tanta gente partilha, mas há dias em que a chuva é apenas uma sucessão de tons de cinzento. Uma merda.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

contenção desabafada

Gosto muito de escrever. É certo que não sou daquelas pessoas cheia de caderninhos, escrevinhando freneticamente todas as angústias pessoais a uma mesa de café, quase nunca encontro uma caneta à mão e não coleciono diários encadernados de viagem (infelizmente, claro), mas sempre consegui organizar-me melhor escrevendo do que falando. Só que, ultimamente, ando contida.
Desperdiço menos palavras escritas, falo menos e reservo-me o direito de não emitir opiniões sobre tudo.
Provavelmente é apenas uma fase, despoletada por muitos meses a viver profissionalmente da escrita, sem férias, nem interrupções, ou ocasionada por muitas leituras erradas daquilo que escrevo.
Também já aprendi a não julgar-me tanto, quer dizer, aprendi a tentar não julgar-me tanto e aceitar que tenho fases de baixa gestão mesmo. Fases em que me apetece recolher-me num canto do sofá a ouvir apenas coisa nenhuma.
O silêncio é cada vez mais essencial na minha vida, pois o ruído de todos os que têm sempre algo a dizer, a partilhar, a fotografar, a criticar enche-nos a vida por todos os lados, fazendo com que esqueçamos que é importante ficarmos calados de vez em quando.