sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O que me distingue das mulheres com glamour

Aqueles cachecóis/mantas descomunais, axadrezados, quentes e maravilhosos. Porque é que as mulheres com estilo conseguem atirar aquilo sobre o ombro, dar uma reviravolta e ficarem deslumbrantes em cerca de dez segundos e aqui esta mulher simples, das berças da moda, parece sempre que está enrolada numa toalha de banho e acaba com as pontas daquilo a arrastarem pateticamente sobre as poças de lama?
Qual é a arte por trás de tudo isto? Aposto que é um segredo tão bem guardado como dobrar lençóis de elástico, claro.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A Solidão

O trabalho criativo, por muito idílico que soe aos ouvidos mais poéticos, desgasta, fere, corrói a nossa segurança, pois temos de provar que o somos: Criativos, excelentes, irrepreensíveis.
Num despudorado palco, onde rasgamos a alma através do que escrevemos, somos escrutinados por outros olhares, leituras, julgamentos e, das duas uma: Ou temos aquela segurança de betão e nos achamos os melhores do mundo, apesar de tudo aquilo que acharem de nós, ou metade dos dias andamos na merda.
Os filhos estão doentes: Tens de ser criativo.
Há problemas que te deixam com vontade de hibernar para quase todo o sempre debaixo de uma cama escura? Temos pena, tens de ser criativo.
Estás com sono, porque não dormiste a noite inteira? bebe café que passa, tens de ser criativo.
Estás doente? Tens de continuar criativo.
Não te estás a sentir particularmente criativo? Sai dessa, tens de ser criativo.
E ninguém, tirando os que estão no mesmo palco de prova do que nós, entende isto de termos de mostrar que temos imaginação, nos despimos de nós, damos voz aos personagens em detrimento da nossa própria voz, em detrimento da nossa própria vida pessoal.
Ninguém, tirando os que estão no mesmo banco dos réus, entende isto de termos de provar constantemente o nosso valor, mesmo quando apenas nos apetece babar para o teclado.
Sei que tenho muita sorte por fazer aquilo que gosto, mas fazermos aquilo que amamos tem este lado negro e utópico de termos de ser sempre excelentes e a excelência é uma palavra sobrevalorizada.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Dor



Podemos passar os dias a fingir que passou, ou a a dizermos a nós próprios que não tem o direito de nos espreitar em cada fotografia, cheiro, recordação dolorosa, ou feliz.
Podemos passar o tempo inteiro a ignorá-la, ou a remetê-la para um canto de difícil acesso, mas acabará sempre por surgir, imperiosa na sua glória de não poder ser ignorada por muito tempo e quando chega tudo quebra, tudo se esfuma numa névoa pesada que nos cobre de frio. Quando surge, tudo é dela e não conseguimos fazer rigorosamente nada além de esperarmos que decida abandonar-nos.

O John Green é o meu citador preferido, confesso.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Tu Pertences a ti



Mais do que a um país
que a uma família ou geração
mais do que a um passado
que a uma historia ou tradição
tu pertences a ti, não és de ninguém

Mais do que a um patrão
que a uma rotina ou profissão
mais do que a um partido
que a uma equipa ou religião
tu pertences a ti não és de ninguém



8.30 da manhã. 4 graus e nem um raio de sol ainda para derreter o frio que sinto desde os ossos até ao fim do caminho.
A M80 passa uma chatice qualquer sem recordações, bocejo e revejo mentalmente o que terei de escrever da parte da manhã. De repente surge o primeiro acorde e o gelo começa, lentamente, a dar lugar à água.